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Trabalhos

O trabalho clínico com um caso de neurose de comportamento familiar, a importância das narrativas transgeracionais e a desmedicalização da vida.

Wagner Ranña
Médico, Pediatra, Psicanalista, Psiquiatra Infanto-juvenil, Mestrado pela Faculdade de Medicina da USP, Membro do Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae, Professor do Curso de Psicossomática Psicanalítica do Instituto Sedes Sapientiae, Docente do Instituto da Criança do HC-FMUSP, Docente da Residência de Medicina de Família e Comunidade da FMUSP, Coordenador e Supervisor de Projetos em Saúde Mental Infanto-juvenil, Educação Inclusiva e de Detecção e Intervenção Precoce em Psicopatologias Graves da Infância, Co-organizador e autor da série Psicossoma, autor de diversos artigos sobre psicanálise e psicossomática.

Resumo

Na clínica psicanalítica com crianças somos demandados cotidianamente para cuidar de casos com problemas no comportamento. Assim os distúrbios do comportamento ou as neuroses de comportamento são denominações muito freqüentemente utilizadas na clínica com crianças, que por serem agitadas, não seguirem as determinações de seus educadores e estarem o tempo todo ocupadas com alguma ação, resistindo compartilhar momentos de reflexão, são também chamadas de hiperativas. Nada mais comum na infância, pois a criança por não ter constituído seu aparelho psíquico na integralidade, tem como vertente de expressão de seus excessos pulsionais e suas impossibilidades simbólicas, o comportamento e o corpo.

Influenciados por concepções e pensamentos que tendem a medicalizar exageradamente esses comportamentos infantis pais, educadores e profissionais da saúde encaminham essas crianças para atendimentos por profissionais de saúde.

Nas últimas décadas estamos assistindo um processo gradativo de medicalização do sofrimento psíquico da infância que tem como protagonista central a hegemonia preocupante dos conceitos e das classificações psicopatológicas dos problemas comportamentais com base no assim chamado neurodesenvolvimento, que depois de terem sidos indentificados como Lesões Cerebrais Mínimas, passaram a ser chamados de Disfunções Cerebrais Mínimas e com os sucessivos DSMs, o manual da Associação Americana de Psiquiatria, passam a ser denominados de Transtornos de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

A Psicanálise coloca-se frontalmente em oposição a essas concepções e defende que nas situações que onde esses diagnósticos aparecem, questões da constituição subjetiva, da dinâmica familiar, da psicossomática e do lugar imaginário da criança na dinâmica familiar podem estar implicados.

Para colocar em movimento toda essa problemática atual vamos apresentar e discutir um caso clínico, pois é a partir dos casos clínicos que a Psicanálise estabelece sua verdade e pode colocar em evidência suas críticas às concepções medicalizadoras.

O Caso Clínico é de um menino, que tinha cinco anos no início da terapia e oito no final. Tinha os diagnósticos de TDAH e Refluxo-gastro-esofágico. Medicado com Metilfenidato.

As avaliações iniciais e posteriormente a terapia vão revelar uma trama transgeracional, protagonizada por sujeitos, pais e criança, em crise diante do enigma: Onde está o pai? O pai fugiu?