Embalados por uma História de ninar gente grande, a Mangueira nos fez sorrir para um futuro de Brasil cantado pela história que a história não conta. O avesso do mesmo lugar. Na luta é que a gente se encontra. Brasil, chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles e Malês.
No primeiro editorial de 2018 escrevemos sobre a morte de Marielle. No primeiro editorial de 2019 seguimos denunciando esse assassinato que completa um ano sem que pudéssemos conhecer quem mandou matar Marielle. Quem mandou matar o nosso Brasil diverso, plural, representado por essa mulher, negra, lésbica, favelada, que não está nos livros de história mas vem, como nos sonhou a Mangueira, buscando um lugar de fala e de luta?
Triste Brasil, esse de 2019. O minério que a paisagem derrubou, o fogo que corpos derreteu e os meninos de Suzano que, atolados de raiva e exclusão, quiseram matar o mundo, que muito antes os matou. Atravessados por tantos ódios e descasos, difícil mesmo tem sido não emudecer o grito coletivo. Ver a multidão cantando o samba da Mangueira foi então como um antídoto lotado de pulsão de vida, contra o retrocesso mortífero na educação, na cultura, nos direitos humanos. Cantamos por um Brasil que tem sua potência justamente no seu colorido, diverso, esplêndido e, não - insistimos - nas armas de atear fogo.
Homenageamos então, nessa edição, pessoas que nos inspiram a continuar a luta por um laço social fértil e inclusivo: Rita Cardeal, Anna Verônica Mautner, Dom Paulo Evaristo Arns, Nicanor Parra. Ecoamos a arte de Fernando Vilela e os pensamentos de Eduardo Leal, Plínio de Arruda Sampaio Jr., Daniel Cara e do nosso valente Departamento de Psicanálise, representado pelas Marias e pelos Marios que não cessam de produzir palavras, pensamentos, gritos, cantos e silêncios de luto e de luta. Aos 55 anos do golpe civil-militar sofrido no Brasil, tantos de nós caminhamos juntos, no Ibirapuera, pelas vítimas de violência do Estado. Diante dos 80 tiros num país cheio de enganos, difundimos o manifesto proposto por Déborah de Paula Souza, em nome da pulsão de vida. Afinal, seguimos: presentes!
Por fim, nossas boas vindas para Camila Flaborea que acaba de entrar na nossa equipe do Boletim Online e nossos agradecimentos a Maria Carolina Accioly que por 9 anos fez parte desta equipe, contribuindo imensamente, e agora se despede para alçar novos voos. Recebemos escritos de membros, alunos e ex-alunos em fluxo contínuo, mas a fim de serem considerados para nossa próxima edição o prazo vai até a última segunda-feira de maio, dia 27/05. Até lá!
Com abraços da
Equipe editorial
Camila Flaborea, Cristina Barczinski, Elaine Armênio, Mario Pablo Fuks,
Nayra Ganhito, Sílvia Nogueira de Carvalho e Tide Setúbal.