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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    53 Abril 2020  
 
 
EDITORIAL

EDITORIAL


Houve talvez um dia em que o problema estava todo em nossas cabeças e havia 50 maneiras de deixarmos um amor, como ressoa a velha canção de Simon & Garfunkel . Há hoje 2020 maneiras de se manifestarem nossas três conhecidas fontes de mal-estar. Aqui estamos, postos à prova por elas.

Forças implacáveis da natureza a escancararem o caminho equivocado pelo qual tristemente vimos seguindo, seu fogo virulento se espalhando pelo mundo, suas águas intermináveis por aqui (e nosso fogo, e nossa sede). Caducidade do corpo a nos alertar dos riscos que correm os corpos coletivos e os corpos muito vulneráveis dos doentes, dos idosos e dos pobres expostos à pandemia (e nosso desejo de dançar juntos nas ruas). Relações com os outros que não cessam de dizer autoritarismo sectarismo xenofobia fanatismo bruxa fantasma bicho papão, miliciano torturador fundamentalista terraplanista monstro vampiro assombração múmia zumbi medo depressão, trabalho escravo desmatamento homofobia extermínio mula sem cabeça demônio dragão, esquadrão da morte ku klux klan neonazismo inferno tirania eleita pela multidão lobisomem horror opressão - o real resiste (e os versos do poeta Arnaldo Antunes flechando nossos corações).

Nós, insistimos. A que se destina? Insistimos em inscrever de humanidade nossas novas formas de viver, zelar e velar, destinadas a renovar nossa presença no mundo. Passado o carnaval, a sociedade civil se faz expectadora de um samba da quarentena . E os mais jovens tecem uma rede de compras de alimentos e de remédios para os mais velhos. E você limpa sua casa e prepara sua comida e oferece o pagamento correspondente à sua diarista. E o violinista desce ao pátio do edifício para amplificar o som de seu instrumento em comoventes vesperais que alcançam os vizinhos ao redor. E a força de atração das transferências sustenta atendimentos psicanalíticos on-line e aulas e grupos de trabalho e rodas de conversas e associações entre psicanalistas e amigos da psicanálise – Departamento, Sedes, FLAPPSIP e nossas outras conexões locais, nacionais e mundiais. E cruzamos corredores e pontes imaginárias que nos atavam como pares, em busca de nos enlaçarmos como iguais.

Eis que ousamos, assim, eroticamente sonhar! E aqui figuramos, com Magritte, a felicidade possível no encontro advertido entre os corpos. Surreal é o que estamos vivendo. Que surreal seja nossa forma compartilhada de pulsar de vida nos encontros com Rubia Delorenzo, Fernanda Almeida, Alessandra Sapoznik, Maria Carolina Accioly, Paul B. Preciado com Denise Maurano, Tania Rivera, Alessandra Parente, Léa Silveira e Jean-Claude Maleval, Ana Sigal, Jefferson Santos Pinto, Maria Aparecida Barbirato, Silvia Gonçalves e Paulo Jerônymo, Danielle Breyton, Camila Burattini, René Roussillon com Roberta Kehdy e William Zeytoulian, Ilana Berenstein, Marê Labaki com Cris Abud, Déborah de Paula Souza.

Estão todos aqui. E ainda Agamben, Zizek, Nanci, Bifo, Petit, Butler, Badiou, Harvey, Han, Zibechi, Galindo, Gabriel, Gonzáles, Manrique, Preciado - cozinheiros da sopa de Wuhan . E nós, nosso corpo editorial que passa a contar com a bem-vinda participação de Daniela Athuil. E vocês, caros leitores desta 53ª edição!

Tudo isso porque escrita é corpo. E a palavra transforma o que se deixa tocar e abre janelas, sacadas e varandas. Toda noite, às 20h30, há de ser outro dia. Porque talvez tudo seja durações (Cildo Meireles, 2009).

Com abraços da


Equipe editorial

Camila Flaborea, Carmen Alvarez, Cristina Barczinski, Daniela Athuil, Elaine Armênio,
Mario Pablo Fuks, Sílvia Nogueira de Carvalho e Tide Setúbal.




 
 
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