O Boletim guarda a história do Departamento contada em prosa e tempo, disse-nos recente uma querida leitora. Uma prática contínua da palavra escrita, viva e pulsante, que lança e relança a figura da comunidade composta por membros, alunos, ex-alunos e amigos... Eis nossa receita. E assim quis, desde 2007, nosso Departamento, ao abraçar um jornal de retratos do nosso cotidiano, oferecido à gratuidade das trocas entre todos nós. Pois já se antevia o quanto expandiríamos nossas presenças no mundo.
Posicionados hoje nesse futuro, apreciamos as malhas compostas por fios de palavras, tão urgentes e necessários quanto refletidos, secundarizados e eticamente sustentáveis – ao passarem pelo pensamento de outros colegas e grupos de trabalho mas também pelo olhar desses leitores tão particulares em que nos convertemos ao editar: acompanhar, pontuar, assinalar o que quer se dizer. Escrita compartilhada.
No fio da navalha, a crucial questão do endereçamento. Desejosos sim da liberdade de abrir nossa trama a quantos leitores e autores coubessem, escolhemos não a precipitar pelo espaço indistinto da web, sob o risco de coartá-la. Então abrimos, o mais possível, uma parte do que se publica integralmente na newsletter, parte consentida com o autor – em nosso site, em nossa página do Facebook...
Mas é aqui, no conjunto da obra de cada edição, que a eloquência divergente desses fios compõe os rios de discurso nos quais insistimos. Assim, desta vez, resultou-nos redigir uma espécie de manifesto. Um manifesto do tempo, dissemos. Esse tempo ao qual abrimos nossas janelas, a fim de reatar os fios das meadas que tecíamos quando fomos interrompidos pela pandemônia. Pois, no dizer cabralino, um rio precisa de muito fio de água para refazer o fio antigo que o fez.
Através dessa prosa, que reafirma as origens de nosso trabalho comum, co-memoramos por fim os muitos anos da presença, em nossa equipe, de nossa colega Elaine Armenio, que dela se despede 44 edições depois; o dossiê que reúne os links para as matérias em torno das configurações do racismo, publicadas desde 2012; o renovado valor de artigos, tanto históricos quanto atualíssimos, em torno das relações entre psicanálise e política; a escolha de Você já viu esse filme, artigo de Déborah de Paula Souza para o Boletim 53, representando nosso Departamento no volume IX da revista Intercambio psicoanalitico da FLAPPSIP; as viscerais reportagens e crônicas das lutas do presente. Pois, dos lutos, nosso Departamento fala em primeira pessoa, numa oração ao tempo em memória de nossa querida Sandra Navarro.
Com cem abraços da
Equipe editorial
Camila Flaborea, Carmen Alvarez, Cristina Barczinski, Daniela Athuil
Mario Pablo Fuks, Sílvia Nogueira de Carvalho e Tide Setúbal.