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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    27 Novembro 2013  
 
 
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MIRA WAJNTAL [1]



No dia 26 de junho deste ano, o Instituto Sedes Sapientiae sediou um encontro promovido pelo Movimento Psicanálise Autismo e Saúde Pública (MPASP) entre os trabalhadores da rede pública de Saúde Mental de São Paulo e os representantes do Ministério da Saúde e da Secretaria Municipal de Saúde. O encontro visava inaugurar um importante debate entre os trabalhadores que enfrentam a prática cotidiana e a esfera administrativa em torno da atenção prestada às pessoas portadoras do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Neste ano foram lançados, pelo Ministério da Saúde, documentos sobre a linha de cuidados para pessoa com TEA, tanto na área da atenção psicossocial, como na da reabilitação da pessoa portadora de deficiência, convocando uma série de discussões entre ambas as áreas. O MPASP assumiu como uma de suas tarefas a mediação do conflito gerado entre as duas linhas de trabalho.

Neste encontro, pudemos contar com representantes das áreas técnicas da Saúde e da reabilitação de ambas as instâncias administrativas, que falaram cada qual da sua posição e plataforma de trabalho. Pelo lado dos trabalhadores, assistimos emocionantes relatos de experiências bem sucedidas e batalhas cotidianas, do empenho em se tecer uma rede de serviços sobre uma realidade com poucos recursos materiais e humanos para a consolidação de uma efetiva linha de cuidados para as pessoas portadoras do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Ouvimos as experiências dos trabalhos realizados no CAPS Infantil da Mooca, Nasf Brasilândia, Estratégia Saúde da Família (ESF) - Jardim de Abril e Ambulatório de Saúde de Especialidades de Pinheiros, recheados de casos clínicos que nos levam a refletir sobre os desafios de criar uma rede de cuidado para a população que tenha um fluxo de atendimento entre os diversos equipamentos de Saúde, Educação e Reabilitação e que garanta, tanto para as pessoas portadoras de TEA, como para outros transtornos psíquicos, um diagnóstico precoce e uma rápida colocação em um trabalho efetivo, que possa potencializar uma reabilitação, evitando estados crônicos do sofrimento psíquico.

No caso das pessoas portadoras de TEA, é sabido que quanto mais precoce for a intervenção, mais bem sucedido será o resultado, embora creio ser esta uma equação válida para todas as patologias. A experiência relatada pela equipe do ESF Jd. de Abril, Luciano Nader e Ana Paula Andreotti, foi sobre um atendimento cujo diagnóstico foi realizado no primeiro ano de vida do bebê e seu desfecho, bem sucedido. NASF Brasilândia, representada por Luana Amâncio, e CAPS Mooca, representado por Jorge F. Maalouf, trouxeram a construção da parceria entre equipamentos da Saúde, Reabilitação e Educação, na qual cada um foi pilar importante para o sucesso dos casos atendidos. Por fim, Denise Cardellini apresentou a experiência realizada no ambulatório de especialidades sobre a intervenção em escolas e suas interseções com a Saúde.

O evento abre uma série de questões para o nosso debate interno no Departamento:

Como fortalecer uma política pública na qual o diagnóstico de patologias graves seja realizado logo no início, sem se tornar estigma de isolamento, garantindo um acolhimento ágil e de prontidão?

A intervenção, logo que haja qualquer sinal de sofrimento psíquico, principalmente no caso de bebês de risco, não coloca uma inversão na aparente cisão do debate entre a reabilitação e a Saúde Mental, uma vez que priorizaria uma ação da atenção primária antes mesmo de se fixar um diagnóstico?

O espectro autista, justamente por ser tão amplo, comporta uma grande modalidade de ações. Desta forma, sua eficácia e adequação serão distintas para cada sujeito, idade e momento em que recebe a atenção, e não pode ficar circunscrita a apenas uma modalidade de atendimento. O grande desafio para a Psicanálise, como campo de conhecimento e pesquisa, seria dialogar com todas as esferas de saber e ações de Saúde, para compor tanto um dispositivo como um discurso multidisciplinar que abranja toda a rede de atenção, desde a esfera primária - momento inicial - até os estados crônicos do sofrimento.


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[1] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP. Participou da equipe fundadora do Hospital-Dia Infantil da Mooca e do CAPS infantil da Mooca por 14 anos.



 
 
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