SOBRE A APRESENTAÇÃO PÚBLICA DE NEIDE BARREIRA ALONSO
ANA PATITUCCI[1]
A apresentação pública do caso clínico Para além dos neurônios: de uma guerreira doente a uma guerreira de si marcou a primeira atividade de Neide Barreira Alonso como membro do nosso Departamento. Neide nos relatou o caso de Ariadne, paciente que a procura para análise após realizar uma cirurgia para tratar suas constantes crises epilépticas. Com uma larga experiência no ambulatório de epilepsia da Unifesp, ela partiu de questões com as quais tem se deparado ao longo de anos de atendimento de pacientes que são marcados pelo sofrimento com sintomas físicos para pensar o trabalho analítico neste campo: “Como é possível ajudar esses indivíduos a criar uma demanda não cristalizada na doença? Como é possível desenvolver uma demanda própria, que não seja do outro – médico, família, equipe de saúde? Qual poderia ser o lugar de um analista na escuta dessa demanda?”
Neide nos conta, então, como Ariadne demanda à analista um espaço de escuta onde possa contar sua história, para além da história de sua doença física. O trabalho de seu relato clínico lhe permitiu pensar a “fronteira do universo simbólico do sujeito e do não simbolizado” que permeia esses casos. Freud e Winnicot são os autores em que Neide se apoiou para fazer suas considerações teóricas. Dessa forma, testemunhamos como a escuta cuidadosa da analista na transferência permitiu a Ariadne ampliar seu campo simbólico ao tecer, pouco a pouco, os fios de seu passado e de seu presente, de modo a se libertar do labirinto em que a sua história de vida, e não só sua epilepsia, a tinha encerrado.
SOBRE A APRESENTAÇÃO PÚBLICA DE MARIA LUIZA PESSOA LOEB (MALU)
DENISE CARDELLINI[2]
A apresentação pública para a entrada no Departamento de Psicanálise de Maria Luiza Loeb traz no título de seu trabalho clínico – A criança maravilhosa; narcisismo na clínica contemporânea - uma referência a Serge Leclaire: “A prática clínica consiste em tornar manifesto o trabalho constante de uma força de morte: esta que consiste em matar a criança maravilhosa (ou aterrorizante) que, de geração em geração, testemunha acerca dos sonhos e desejos dos pais; só há vida a este preço, pela morte da imagem primeira, estranha, na qual se inscreve o nascimento de cada um. Morte irrealizável, mas necessária, pois não há vida possível, vida de desejo, de criação, se cessarmos de matar “a criança maravilhosa que renasce sempre.” (Mata-se uma criança, um estudo sobre o narcisismo primário e sobre a pulsão de morte, p.10).
Ela se debruça sobre os impasses e desafios do narcisismo na clínica atual e indica que é a partir da estrutura narcísica atualizada na transferência que o analista pode operar propiciando meios ao analisante para sustentar a incompletude intrínseca da existência.
Na fértil discussão entre pares, guiada pelo referencial lacaniano, coloca sua inquietação sobre a ruptura ou separação da analisante, que vai embora mas deixa na analista interrogações sobre a força de seu narcisismo e como seu trabalho clínico pode ir somente até certo ponto, na diminuição de seu sofrimento.
Essa analista é também artista plástica e as artes sempre fizeram parte de seu mundo familiar; no desdobramento dos lugares que ocupa, considera-se artista e psicanalista. Um transitar frutífero e de criação, que o Departamento na sua pluralidade recebe com alegria e satisfação.
________________________________
[1] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae; representante da Comissão de Admissão no Conselho de Direção do Departamento, gestão 2015-2016.
[2] Psicanalista. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, integrante da Comissão de Admissão.