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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    58 Abril 2021  
 
 
CRÔNICAS DA QUARENTENA

O ESTRANHO CASO DE 2020 – C0RRESPONDÊNCIAS


CAMILA KFOURI [1]
MALENA CALIXTO [2]
MYLA VERZOLA [3]





O que você lerá aqui não será um trabalho teórico sobre psicanálise.
Mas sim a correspondência trocada por três analistas, alunas do curso de Psicanálise, contando sobre dores e delícias do ano de 2020 e um percurso que foi traçado trocando cartas, casos e segredos.
Cartas trocadas desde maio pelo Facebook, que inspiraram projetos, sonhos e esses escritos de agora, aqui.
Camila, Malena e Myla falam a partir de si próprias.
Correspondências.
Co-responder.
Não oferecem respostas, mas falam de vínculos possíveis em tempos de pandemia e de um país quase dominado pelo fascismo.
Vínculos possíveis e construídos a partir do locus Sedes.
Sigamos.


Trilha sonora sugerida: Marisa Monte, E. C. T.
https://www.youtube.com/watch?v=S_ojmQmNZmY

Carta aberta para Malena e Myla.

Minhas amadas.
Eu sempre sofro horrores para escrever monografias.
Neste ano é opcional e- surpresa!- escolhi fazer.
Escolhi porque vocês me puxaram pela mão e ofereceram companhia na empreitada.
Um ano sem ir pro Sedes.
Sem atender presencialmente.
Muitas perdas e danos.
Mas quase sem nos vermos, olhamos umas pras outras e nos ganhamos. Paixão total, interlocução privilegiada, cartas, presentes, poesia, música, choros e gargalhadas e... psicanálise.
Aula por vídeo.
Dificuldade para ler.
Nossos professores e colegas. Tudo no mesmo barco.
Sabemos que numa análise muitas vezes nossas angústias se cruzam com as dos pacientes. Às vezes eles vivem uma perda ao mesmo tempo que a gente.
Lutos que se cruzam.
Mas dessa vez isso ficou escancarado.
Todos emborcados na mesma dor, nos mesmos medos.
Clínica que muda.
Bion diria que se trata de um soldado ferido puxando pelo outro.
Todos na mesma trincheira (ah, como é bom não precisar citar a referência bibliográfica).
Na mesma trincheira, nós e nossos pacientes.
Espelho.
Perdemos alguns dos nossos na trincheira.
Nossa professora Sandra, soldada elegante do nosso batalhão.
E mais outros.
A partir dessas dores criamos um grupo para tratar das pessoas que sofrem lutos à distância.
Criamos uma clínica nova.
De psicanálise pública.
A Clínica da Cidade.
Pudemos criar coisas no meio do caos.
Falar de amor à beira do abismo.
Vocês passaram a representar um mundo no meu mundo.
Volto ao espelho.
A imagem de mim que vocês me devolvem.
A imagem de vocês que eu enxergo. Bebês se vendo no rosto da mãe.
Aviso pra uma: “Você é belíssima”.
Ela diz que não.
Outra me diz que eu presto pra escrever. Eu nego.
Duas dizem para outra que esta pode escolher seu destino, que a gente estará juntas na decisão que ela tomar. Ufa. Ela aceita.
E agora como colocar nosso romance epistolar na esfera dessa cola que nos uniu primordialmente, a psicanálise?
Surgiu um amor pela Conferência XXXI.
Depois a ideia de brincarmos de cada uma escrever em nome de uma instância.
Eu ia ser o Superego, acho.
A seguir nos embrenhamos no espelho. Lacan e Winnicott.
O olhar.
O rosto.
O olhar de vocês melhora o meu.

Com amor, pouca teoria e sem saber aonde vamos dar,


Camila



Carta monográfica para Camila e Malena
(e para todos dos Seminários, agora)

Nossas cartas começaram há meses. Trocações. Aproximações. Escancarações em tempo de isolamento.
São cartas de pandemia. Frutos- frutíferos, penso eu.
Tanto que até aqui elas chegaram.
Retomei a primeira delas. Aberta, no Facebook. Carta minha para Malena.
Data: 24 de maio. Título: Carta aberta e saudosa para uma amiga poeta.
Malena, dias antes, tinha mandado áudio no WhatsApp. Queria notícias, palavras, alguma continuidade em mais uma relação interrompida fisicamente. Falou de fazermos Zoom. Falei de nos escrevermos, de nos encontrarmos nesse espaço e apreço em comum que temos pelas palavras. No mesmo dia, publiquei essa tal primeira carta. Aberta. Que tal qual essa, retomava um começo de algo. O começo de meu encontro com Malena. Não podia imaginar que seria aquela carta também o começo de outra relação, com Camila. Camila leu, se aproximou, comentou e ali já era óbvio que aquele também era lugar para ela/ dela. Seguimos então as três, meses a fio, nos escrevendo tão intimamente e tão publicamente. Tal qual agora.
E fico pensando no sentido dessas cartas. Me faz pensar nas inúmeras cartas de Freud, outro elo que compartilhamos.
Em mim, essas cartas tiveram muitas repercussões. Cartas entre amigas, cartas entre analistas, cartas em tempos de pandemia. Falar do íntimo e da dor no lugar mais público e feliz da atualidade: redes sociais. Falar, circular, movimentar. Não seria essa a função da análise? Eu penso mais ou menos que sim.
Não foram as correspondências de Freud a sustentação de sua chamada “autoanálise?”. Eu penso mais ou menos que sim.
E aí penso em Jerô - eu o chamarei assim, intimamente, porque é esse também um dos bonitos efeitos do momento que atravessamos juntos, todos nós. A proximidade criada com a distância imposta entre alunos e professores neste 3o ano.
Mas voltando, penso em Jerô e em suas falas sobre o dispositivo. Semana passada perguntei para ele o que chamava de dispositivo. Acho que muito tomada por questões minhas, nossas, um dos frutos dessas cartas, a Clínica da Cidade, dispositivo outro, ao qual já, já retomo.
Me pergunto: não seriam cartas, como as de Freud e seus interlocutores, uma outra espécie de dispositivo possível? Tal qual agora nos adaptamos a transformar uma tela em dispositivo? E o que se dá e se deu nessa troca de palavras e afetos e angústias entre nós três, três analistas?
Luto e Melancolia. Talvez um dos textos que mais me tocou nesse ano. Ano de luto. Lutos. Lutas.
Um tanto do que perdi, do que me faltou, de alguma forma direcionou-se à essas cartas. À escrita. Ao pensar. A olhar esse momento pela lente da Psicanálise e do afeto. Essas cartas, que também viraram projeto. Que virou sonho. Grupo. Projeto efetivo. Cartas que escutaram e se transformaram em escuta ampla e política. Cartas que viraram um núcleo também. Um grupo de escuta sobre luto. Um lugar nesse dispositivo outro para falar das perdas.

Faço uma pausa. A vida - infelizmente? felizmente? - segue sem pausa, mesmo com tudo pausado. Luto. Muitas perdas. No meio disso, há uma semana, peguei uma cachorrinha. Sonho da minha filha. Chica, seu nome. Encheu nossa casa de afeto, mudou as dinâmicas. Nessa pausa, Chica começou a ficar estranha. Foi pro veterinário, emergência. Escrevo enquanto olho a cada meio segundo o WhatsApp esperando notícias dela pelo meu marido. É algo grave. Talvez minha carta se encerre aqui.

Tudo tão súbito.
Quanto mais?
Por quanto mais tempo?

Volto brevemente. Tinha mais a escrever. Muito mais. Pessoas a citar. Questões a dividir. Mas não dá. Penso na paciente de Maria Helena. Que na doença, precisou voltar-se a si. Redirecionar a libido.
Preciso voltar-me para Chica. Serão 48 horas decisivas. Traumatismo no pulmão esquerdo. Fruto – infrutífero - de uma queda, provavelmente. Preciso voltar-me para Olivia, minha filha. Tão confusa, tão cheia de amor e agora num certo vazio. No suspenso.

Beijos com amor.
E um último pedido: revisem essa carta para mim?
Tinha mais, mas não deu. Ou foi o que deu.

Amo-as.
Beijos,

Myla


Carta monográfica para Malena e Myla.

Teve um momento em que desistimos da monografia.
A vida pesada demais pra cada uma.
Os lances que a gente inventou.
Tudo pareceu muito.
Excesso.
Pacientes com covid. Outros apavorados e inconsoláveis.
Aí Lena nos chamou para não desistir.
Topamos de novo.
Acho que é disso que trata nossa correspondência: de falar sobre a conjuntura e sobre a formação de um grupo.
Tijolo por tijolo num desenho sólido.
Poder formar um grupo nesta circunstância é muita coisa.
Inventamos uma clínica nova. A Clínica da Cidade. Agora já em andamento de forma incontornável.
As cartas de vocês me fizeram lembrar de nossa trajetória.
De como chegamos até aqui.
As ideias e os afetos e a força de trabalho se juntando.
Não sei se se daria dessa forma em outras circunstâncias.
Malena e eu pensamos em repetir aqui o nosso tema principal, matéria de outras monografias e de interesse de trabalho: o trauma.
Depois pensamos em trocar correspondências como se cada uma representasse uma instância psíquica. Mas disso já falei.
Myla mencionou a troca de cartas dos primórdios da psicanálise e da importância delas na auto-análise de Freud.
Nossas cartas estão aqui agora.
Mas se fôssemos resgatá-las todas, desde o começo, daria um livro (Tenho uma amiga que diz que temos trocado tantas cartas pra facilitar o trabalho de futuros biógrafos. Não tenho esta pretensão jamais. Mas gosto de ver nossa correspondência virando algo para além de nós).
Nas nossas cartas habituais, falamos muito de psicanálise. Mas agora pouca teoria nos ocorre.
Lembro especialmente de que, quando andei doente, ter-lhes dito “olha, como disse o Freud, doente a gente retorna ao narcisismo primário. Nesse momento não amo ninguém”.
A paixão de Malena pela conferência XXXI e pela frase a respeito do “servir a três senhores.”
Myla falando sobre Lacan e “O estádio do espelho”.
A paixão pela clínica que nos une.
A mobilização com “Luto e Melancolia” também fez parte da criação de uma roda de conversa chamada “Luto à distância”, aberta para quem quiser conversar sobre as dificuldades deste momento em que não podemos velar nossos mortos.
A imagem dos caminhões transportando corpos na Itália, ainda em março, corpos que não teriam rituais. E as nossas próprias perdas.
Nos pusemos a trabalhar e agora estamos aqui, juntas, tentando contar pros professores e colegas o que vivemos nos últimos meses.
Talvez deixar claro que, se não fossem eles, a história seria outra, porque cada um é personagem desta história.
Deixo meu amor e a expectativa por novas correspondências.


Camila


Caras Camila e Myla

E caras companhias do terceiro ano. Amigas. Amigos. Professores.
Foi assim que se deu este ano.
Vivemos de cartas mesmo estando bem perto. Correspondências. Alimento para dias insanos. Levantar para responder. Me tiraram da cama. Me trouxeram pra vida.
Cartas de amor.
Hoje escrevo um bocado desse ano aqui.
Em todos os anos anteriores inventei Marias (nas monografias). Neste ano também quero inventar, e, por isso mesmo, apresento-lhes Maria Borrada, minha terceira Maria.
Ela conta o ano. Do jeito que consegue. Sem muitas elaborações. Um amontoado de sensações.
Maria Borrada de Dois Mil e Vinte. O sobrenome, um número no meio da vida.
Seria esse ano uma meia vida?
Maria Borrada precisa de cômodos. De incômodos também. A escrita é um incômodo. Maria precisa perder. Escrever. Desjuntar o amontoado de coisas que invadiram o seu corpo com uma força sem tamanho. Tudo ao mesmo tempo. Misturado.
Haja agenda pra dar conta do seu sobrenome: dois mil e vinte. Dois mil e vinte
dois mil e vinte
dois mil e vinte
dois mil e vinte
dois mil e vinte
uma repetição.
Repetição.
No meio de tudo, ao mesmo tempo, Maria encontra Mazzuchini, artista contemporâneo (envio para vocês algumas imagens entre páginas), nascido em Jacareí. Hoje vive em Buenos Aires.
Maria se vê em sua obra em 2020.
Se confunde.
Mazzuchini pinta a criança em mulheres grandes. Mas o que ela vê ali é passado. Aquele que volta. Antes do espelho. Um corpo despedaçado. Sem forma.
Desequilibrado.
Um corpo?
Maria já esteve aqui nesta página em branco dezenas de vezes. Permanece cinco minutos. Sai. Não consegue ficar. Algo a tira da página e a leva pra lugar outro. Lugar repetido onde o movimento dos dedos é o que importa. Passa-os pela tela e assim segue no meio da nada. Entre ausência de notícias e infindáveis repetições.
Mas Borrada volta aqui e agora.
Não pode fugir.
Volta.
Palavra faz casa. O que é uma casa?
Uma casa é um lugar fechadinho. Proteção. Segurança. Toca. Pode ser arrombada.
A casa de Maria é feita de carne e sangue. As paredes sustentam os cômodos. Frágeis.
Se machucam. Descascam. Queimam. Ferem. E sangram. Mas são firmes.
Se sustentam com veias e ossos.
A palavra trouxe Borrada ao mundo. De lá ela nasce.



Instagram de Juliano Mazzuchini, que gentilmente nos cedeu as imagens



E de uma barriga.
De uma barriga barulhenta e quente.
Nascer é algo estranho e frio.
Grito despalavrado sem sentido, um prenúncio da linguagem.
Nascemos nas mãos de um outro. Na língua pastosa, molhada, cheia de movimento amargo, doce, azedo. Nascemos de um corpo língua. Somos carregados por essa dupla aliada a tantos outros sentidos. Nascemos do cheiro. Do gosto. Do hálito. Do gozo. Do encontro.
Nascemos.
E,

não somos nada nem antes nem depois. Talvez nem em 2020.

Maria quer falar de casa. De Eu.
Eu quer falar de Eu.
Mas o que é Eu?
Maria volta. Volta no início do ano. Na natureza selvagem. Sem casa. Na Patagônia. No meio Maria se borra. O Eu se mancha. Vira natureza. Vira tudo junto. Vira uma estrada sem fim nem começo. Uma estrada desértica. Cromatizada. Cheias de bichos mesclados à natureza. Vira o mundo. Mas Eu quer segurança. Virar mundo é liberdade e isso não combina com Eu. Ele precisa reprimir. Reprimido pelo Eu é terra estrangeira.
Eu é um trabalho. Dá um trabalho ser Eu.
Mas o que é Eu?
Eu é uma casinha pequenininha de janelas e cômodos diversos. Nessa casinha há um quintal e além de quintal uma varanda. Tudo estrangeiro. Eu tem mania de esquecer lá fora.
O estranho. Trancado pra fora.

Reprime. Esquece. Atua. O estranho.
Deixa de fora tudo que é estranho. Mas não é só. O estranho faz companhia.
O Eu não é só.
Ele vive numa dança frenética entre outros. Ou outros nele. Ele vive da relação com seu super, com o isso e com a realidade de fora. Sim, ele obedece a três senhores. Tarefa impossível. É impossível ser Eu.
Um ser perdido no meio da grandeza da Patagônia faz o quê? Misturado ao incontrolável. O tempo, a terra, o ar, garganta do demônio.
O Eu é pequenininho. Pequenininho não. Irrelevante. Impossível. Impossível ser Maria Borrada de Dois Mil e Vinte. Impossível não ser Maria Borrada de Dois Mil e Vinte.
Na natureza selvagem, Eu se desintegrou. O que era pra ser comunhão com o mundo exterior, um sentimento oceânico virou um sentimento desértico. Uma estrada. Onde se cruzavam tempo vento guanaco rio tempestade puma. Maria se borrou na natureza. O medo da morte veio com força.
> Andar naquela estrada sem fim causou-lhe pânico, desintegração. Cadê um corpo pra se segurar? Cadê um Eu? Às vezes ele fica tão minúsculo. Um grão de areia daquele deserto todo. Às vezes, também, tão grande. Será que a mesma coisa? Pequenino e grande? Maria acha que sim. Sim, é.
Pra que um Eu gigante?



Pra que um Eu pequenino?
Pra que tanto Eu?
Borrada viveu experiências desérticas, de pura solidão nessa comunhão. Borrar é comunhar? Borrar não é comunhar. Seu Eu se dilatou nas montanhas de gelo, espalhou pelos rios, descobriu icebergs. Afundou. Que solidão aquilo ali. E lá mesmo escreve. Escreve pra se separar:

“A solidão é selvagem. Vasta. Descampada. Eterna. Gigante. A solidão é. Não está. Não foi e nunca irá.
Mora num carro. Atravessa cidades. Dorme em hotéis de estrada. Cheira mal.
A solidão é azul. Tem picos. Bicos. Patas. Correnteza. Dorme em cama de algodão. Nuvem. Mata fechada. Corpo trêmulo. Rípio. Miragem. A solidão é condição. Ruta 40. Vai no sul do mundo. Neve. Não tem placa. Caminho. Direção. Na lombar. Na terra que pariu pedra. A solidão é aqui. Na imensa Patagônia. No pequeno de mim.
Nasce e morre no dia. E vive. De novo.
Solidão"
Assim 2020 não acaba. Isso foi no começo. Depois veio uma pandemia.
O que vem a ser uma pandemia?
O Eu se desespera.
Da sensação de esparramamento vem agora a casa, fechada. Tudo tudo junto. Trabalho. Comida. Quarto. Escritório. Lazer. Tudo tudo absolutamente junto. Maria Borrada sofre. Na morte de seu pai, quando criança, sua mãe abriu todos os cômodos da casa.
Todos unidos sem pai. A sensação de comunhão assusta Maria Borrada.
O Eu precisa de cômodos, Eu já disse.
Parede quebrada pra ligar tudo é abismo.
Nietzsche diz que a vida é cair no abismo. Você pode escolher. Vai cair sorrindo. Vai cair chorando. Volto pro deserto. Tão profundo. É preciso correr. A estrada não acaba não tem fim. Maria vê redemoinhos no deserto. De areia. De terra. Olha pra cima as nuvens gigantescas vão engoli-la com suas línguas, saboreá-la e devorá-la e levá-la para o infinito.
Que medo do infinito.
Maria quer sua casa de volta.
A vida é um abismo. Volta.
A pandemia é infinita. A morte chega. A estrada da Patagônia veio dar nisso. Nesse fechamento da vida como era. Um arrancamento se fez. A casa volta a ser igual a casa da infância. Tudo aberto.
E lá fora morte.
Morte. Morte.
Banalização da morte. Negação dela. Não se nega a morte. Ela é condição. É um instante da vida [4]. Um instante único. Precioso. Está confuso? Está.



@mazzuchini



Dois Mil e Vinte só pode dar nisso.
Em confusão. Borramento.
Neurose misturada com almoço. E mais. Mais parede com mal-estar. Masoquismo com café. Fome com narcisismo. Sono com luta e melancolia. Eu isso supereu embrulhados em sacos de pão. Farelos do dia. Que é o mesmo. Toda hora o mesmo dia. Borrado no fundo da xícara. Nas bordas um tanto de Eu. Sem fronteiras.
Maria Borrada vai mudar de ano brindando a vida e a morte.
Tudo indica que a taça transbordará.
Ruim mesmo é morrer de civilização adoecida.
Tenho mania de inventar identidades. Vocês já conheceram tantas.
Borrada é mais uma. Borrada de eusuperissoreal.
Torço pra que Chica esteja bem. E pra que continuemos.
2021 está chegando.

Um beijo grande em todos vocês e obrigada pela companhia.


Malena Calixto


Rabicho ou carta de tchau para Camila, Malena, colegas e professores

Volto para um rabicho. Ou um “bilete”. Minha cachorrinha sobreviveu às primeiras 24h. Fui visitá-la. Abanou rabinho, queria se jogar da gaiolinha no colo. Vitalidade.
A vida segue.
Ufa.
A vida persiste.
Ufa.
Volto para reforçar o que disse tantas vezes naquelas cartas que esses aqui não lerão: o amor é resistência.
Sigamos.
O que fazemos, Camilis, Nena e colegas, é importante. É bonito. É amor, acredito.
O que se deu nas cartas e nesses dois semestres é importante. É bonito. É amor, acredito.
Foi além de transmissão. Foi além de palavras escritas e ditas.
Vínculo. Elo.
Como diz Jung, citando livremente porque sem tempo para buscar a referência mas encantada de que como tudo é ferramenta e acréscimo: conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.
Ou como citou Camilis, pensando no grupo, uma frase (em livre memória e citação) de Radmila Zygouris: ser às vezes mais vizinha do que psicanalista.
Obrigada a todos, por tudo.
Foi muito
Beijos,

Myla




[1] Psicóloga, psicanalista, aluna do 4º ano do Curso de Psicanálise. Participou do Laboratório de estudos da violência e vulnerabilidade social da Universidade Mackenzie e da Clínica pública de psicanálise. Fundadora da Clínica da Cidade - psicanálise pública, na qual é uma das coordenadoras do grupo Luto à distância (nas horas vagas é DJ).

[2] Praticante da psicanálise, aluna do 4º ano do Curso de Psicanálise. Escritora, com o primeiro livro – Qria – no prelo pela Editora Livre, de Marcelino Freire e um conto publicado no livro Linguateca, Antologia, editado artesanalmente pelo poeta Douglas Diegues.

[3] Psicanalista, cursando o 4º ano do Curso de Psicanálise. Atende em consultório particular e é uma das fundadoras da Clínica da Cidade - psicanálise pública, na qual é uma das coordenadoras do grupo Luto à distância.

[4] Marton, Scarlett Zebetto– A morte como instante de vida/Scarlett Zerbetto Marton: curadoria de Fabiano Inbcerti – Curitiba: PUCPRESS, 20




 
 
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