Foi sob o impacto e a perplexidade causados pelas cenas de devastação que o terremoto seguido de tsunami deixou na costa do Japão, no início do mês de março, que nos lembramos de um livro lançado em Buenos Aires pelo Editorial Entreideas, em setembro do ano passado e que muito tem a contribuir em nosso pensar e fazer psicanalítico.
Trata-se de “Psicoanálisis extramuros – Puesta a prueba frente a lo traumático”, livro póstumo de Silvia Bleichmar,psicanalista argentina.
O novo livro traz reflexões sobre a prática psicanalítica em situações limite. Teve origem na experiência da autora que vivia na Cidade do México em 1985, na ocasião em que um terremoto de grande intensidade abalou as estruturas do país e da população. Bleichmar trabalhou com vítimas desta catástrofe natural e também, a pedido da UNICEF, ministrou um curso destinado a estudantes e profissionais da saúde, onde os pensamentos teóricos sobre o traumático ali desenvolvidos foram assinalando a construção de uma teoria original sobre o psiquismo humano.
Silvia parte da indagação de como uma catástrofe natural opera no psiquismo. “A realidade é a realidade do homem e para o homem e só pode ser pensada a partir da significação que ele lhe atribui e das representações que para ele entram em jogo” – estas foram as premissas que guiaram Silvia Bleichmar e seu companheiro, Carlos Schenquerman, também psicanalista, que viveu com ela a experiência do terremoto quando do exílio de ambos naquele país, em sua prática extramuros.
“Nossa concepção do aparelho psíquico como um sistema aberto, capaz de sofrer transformações pelas recomposições que os novos processos histórico-vivenciais obrigam – pensávamos - , é o que dá a razão de ser à psicanálise, a nós como psicanalistas e à exportação extramuros da prática psicanalítica” (C. Schenquerman, no prólogo do livro).
No livro, Silvia Bleichmar tenta responder algumas das questões com as quais se deparou: As ferramentas que temos são válidas para trabalhar em processos traumáticos? Como os analistas, acostumados a trabalhar com a desconstrução ou desarticulação dos modos de defesa do sujeito, podem trabalhar com a eclosão das defesas? Qual é nossa função frente a essas questões?
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(1) Psicanalista. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, onde integra a equipe editorial do Boletim Online e o Grupo Espaço de Trabalho. |