ROBERTA NAZARÉ BECHARA VENTURA [I]
Dançando sob o império do medo, 1938. Paul Klee
Assim como a luz das estrelas no céu fica obscurecida pelo brilho do
sol durante o dia, o sonhar continua enquanto estamos acordados, ainda
que seja obscurecido pela luz da vida de vigília
Ogden, 2016
De criança, me espantava pensar que as estrelas que víamos no céu em noites
limpas eram estrelas mortas; que as luzes que brilhavam em nosso céu eram
rastros de um passado longínquo no tempo e no espaço; que esse espaço
inimaginável era cruzado de modo tão veloz (a 300.000 km por segundo!) e
que ainda assim, as notícias que nos traziam eram atrasadas: víamos luzes
de corpos celestes que já não mais existiam. Aquelas constelações que
gostávamos de decifrar ou de formar no silêncio incômodo do sítio e da
família eram então nítidas ilusões do tempo e confusões de escalas. Nem
mesmo a idade daqueles corpos luminosos aparentemente estáticos eram
equivalentes; variavam na distância e na intensidade de luz ainda que
fizessem presença simultânea aos nossos olhos. A hipótese de que se
pudéssemos viajar de modo tão veloz, como a luz das estrelas ou da lâmpada
que iluminava nossa casa, se isso nos tornaria passíveis de viajarmos no
tempo me tomou na infância noites e dias de pensamentos. Indagações tão
ingênuas quanto agudas. O ceticismo e a incompreensão quase risível com que
meus pais pareciam receber minhas tímidas perguntas nesse tema me davam
pistas de que o conhecimento dos físicos pesquisadores e professores de
alta titulação acadêmica, no caso papi e mami, dotado de
toda teoria para explicação dos fenômenos, carecia de uma ferramenta
essencial, uma escuta particular para elucidar aquela vertigem
intragalática.
***
A primeira publicação de Freud sobre ato falho data de 1898. Sob o título de “O mecanismo psíquico do esquecimento” Freud publicou numa revista especializada em psiquiatria e neurologia a análise das associações que fez na ocasião em que não conseguiu lembrar o nome do pintor Signorelli. Essa publicação se deu pelo menos 2 anos antes da finalização da sua escrita de A interpretação dos sonhos e 5 anos após a publicação das primeiras reflexões clínicas dos casos de histeria junto a Breuer (“Comunicação Preliminar”). A publicação d´A interpretação dos sonhos em 1900 inaugura a teoria psicanalítica de Freud, demarcando os textos anteriores como pré psicanalíticos. Menos importante na observação desses 2, 5 e 7 anos que separam essas publicações é a classificação do que seria pré ou propriamente psicanalítico, mas o que se quer dar saliência aqui é ao caráter justamente não linear mas justaposto da elaboração, sistematização, partilha e tecelagem daquilo que ficou conhecido na virada para o século XX como psicanálise.
A convergência da análise do ato falho, do tratamento da histeria e da
interpretação dos sonhos com a edificação da teoria psicanalítica pode ser
feita por diferentes abordagens. Pelas datas de escrita e publicação dos
textos que as expõem, pelas bases metapsicológicas que as engendram, pela
dissolução da fronteira entre normal e patológico do saber vigente que
entoam, pela revelação de sentido e história a fenômenos aparentemente
desconexos, e, claro, pelo desnudamento de uma tendência que, à revelia da
razão, comparece e insiste em uma busca cuja meta e satisfação soam um
tanto estranhas ao que a consciência pode reconhecer como próprio do eu.
Ao mesmo tempo em que teorizava sobre a clínica da histeria, Freud se
debruçou sobre um campo que não concernia ao da patologia e nem ao dos
tratamentos que conduzia mas cujas bases foram dessa clínica retiradas. O
que estava em jogo na clínica da histeria nessa passagem de século, nas
teorizações de Freud, e que se expandiram para a vida cotidiana da vigília
e do sono, era uma nova concepção sobre o ser humano, sua condição física,
mental e relacional. Não seria exagerado dizer que uma nova noção do que é
feito o ser humano emergira da clínica do Dr. Freud e por isso arrebatou as
concepções científicas da vida não patológica de maneira igualmente
revolucionária quanto o modelo terapêutico do qual se desdobrava.
Enquanto os quadros de histeria traíam a anatomia da medicina moderna ao
tomarem os corpos por uma dinâmica psíquica particular à história e
composição de afetos de cada enferma, os esquecimentos, lapsos, erros e déjà vus pareciam nublar a memória, a ação, a linguagem de maneira
mais trivial e corriqueira mas igualmente imersa numa rede de associações
simbólicas em que se deslocam e se condensam pistas dos impulsos
inconscientes que, de modo até então insuspeito, dirigem a vida humana.
Freud viajava de carruagem na companhia de um estranho quando aconteceu de
esquecer o nome do pintor italiano Signorelli. O local de partida da viagem
era Ragusa, região hoje conhecida como Dubrovnik, sul da Croácia, à beira
do mar Adriático. Na época da viagem de Freud, Ragusa pertencia ao domínio
Austro-Húngaro e tinha como principal língua falada o italiano. O destino
era uma estação imprecisa em Herzegovina. Herzegovina é uma região no
sudeste do país compreendido como Bósnia e Herzegovina [ii].
Ao não se lembrar o nome Signorelli, nomes substitutos vieram à
consciência de Freud: Botticelli e Boltraffio. Dois
pintores igualmente italianos se impuseram à lembrança do pintor dos
afrescos do Apocalipse e do Juízo Universal que Freud queria comentar com
seu companheiro de viagem, mas absolutamente não lhe serviam. A conversa,
Freud nos conta, ia de um papo razoavelmente descontraído e claramente não
íntimo entre costumes e práticas inusitadas de povos vizinhos e locais de
visitação e apreciação de boa arte italiana. A rede de associações do nome
esquecido para os nomes lembrados em seu lugar foi tema de análise e
interpretação de Freud no artigo de 1898, tema que também abre a publicação
em 1901 de uma extensa coleção de fenômenos semelhantes, o livro
Sobre a psicopatologia da vida cotidiana – Acerca de esquecimentos,
lapsos de fala, superstições e erros
. A arte empregada para decifrar os motivos e processos de tais eventos é a
mesma da interpretação dos sonhos; a base de conhecimento, a mesma que
descortinou os fenômenos de adoecimento neurótico até então.
Sigamos com Freud na sua elucidação desse esquecimento. Não se tratava de
uma familiaridade especial com os nomes ou com os pintores evocados em
detrimento do esquecido. Para Freud, Signorelli lhe era tão conhecido como
Botticelli, enquanto Boltraffio pouco poderia lhe dar como familiar. Deste
último não saberia dizer mais que a filiação estética, enquanto dos dois
primeiros, as obras e minúcias das composições lhe diziam mais e
equivalente respeito. Freud buscou então a conexão que poderia haver entre
os nomes lembrados e o esquecido na sequência da conversa que travava com
seu companheiro de viagem e, na conversa que travava dentro de si, pelas
associações inconscientes que se mobilizam à sombra da conversa dita.
Logo antes da conversa entre os dois viajantes partir para as visitações de
terras italianas e chegar em Orvieto, onde se encontram os afrescos de
Signorelli, conversavam sobre uma particular observação que Freud teria
ouvido de um colega médico sobre o povo turco diante de um destino de
adoecimento grave. Freud contava que sabia por esse colega que os turcos
demonstravam especial confiança no médico e estranha resignação diante da
impotência da ciência médica quando em uma condição que daria cabo da vida
do indivíduo. “Herr[Senhor], o que hei de dizer? Se houvesse uma
maneira de salvá-lo sei que o senhor o teria salvado” performava Freud ao
seu interlocutor. A imediata aceitação da morte iminente contrastava com o
tenaz inconformismo que o povo turco demonstrava diante um distúrbio
sexual. “O senhor sabe como é, se isso não funciona mais, a
vida não tem valor”. Essa contraposição e este segundo texto no entanto
Freud não pronunciou na conversa por considerá-los de temperatura um pouco
acima das amenidades que cabiam aos dois desconhecidos tratar enquanto
cruzavam o território da Dalmácia. A anedota que dizia respeito à
preferência pela morte a uma vida sem prazer sexual ficou apenas nos
pensamentos de Freud. Foi inclusive logo deixada de lado já que o papo
partiu para os destinos italianos. O destino da carruagem que levava os
dois viajantes era, como se sabe, Bósnia e Herzegovina, cujos nomes iniciavam tal qual a evocação que Freud performara em sua anedota, isto é, herr(já destacado como senhor), e como os dois nomes que
substituíram Signorelli: Botticelli e Boltrafio. Eis uma cadeia associativa pelas vias fonológica e semântica mas de motivação inconsciente e forjada pelo arranjo do desejo e da censura, como se irá ver.
O pensamento que Freud deixara para atrás, não concluído, interdito, não
sossegou, no entanto, e se interpôs no desenvolvimento do novo assunto. Botticelli e Boltrafio diante da ausência de Signorelli faziam emergir aquilo que parecia querer se continuar pensando. Nesse entre línguas, o embaralhar de nomes próprios revelaram de
maneira cifrada, como é próprio dos lampejos do inconsciente, uma constelação cujas diversas associações faziam figura para os temas da morte e da sexualidade.
Freud conta que, poucas semanas antes da viagem a Bósnia e Herzegovina,
havia estado em uma cidade de nome Trafoi onde recebera a
notícia de um triste acontecimento: o suicídio de um paciente que lhe havia
dado especial trabalho. A notícia continha ainda o motivo do ato à morte:
um distúrbio sexual incurável. Freud relata que o fato trágico e assuntos
diretamente a ele relacionados não foram lembrados por ele durante a viagem
à Dalmácia mas reconhece no entanto estar sob efeito da notícia e seus
desdobramentos. Estar sob efeito de algo que não emerge à consciência, ora, é
justamente ao trabalho fora das vistas da vigília que as forças
inconscientes se dedicam permanentemente e simultaneamente às tarefas,
ações e pensamentos da consciência. Reminiscências de diferentes cenas de
locais e tempos distintos impediram que a conversa seguisse o rumo da
vontade de Freud. No ato falho o sujeito da vigília é tomado de assalto
pelo seu desejo inconsciente que encontra um modo obtuso de se revelar. O
que pode ser reconhecido como determinismo psíquico.
O ato de vontade de Freud foi seguir o assunto sobre as pinturas italianas
de Orvieto a fim de não lembrar os acontecimentos e afetos ligados a
Trafoi. Interrompeu a conversa sobre os costumes turcos quando pensou na
segunda anedota; à opção pela morte decorrente da impossibilidade de prazer
tanto a anedota quanto a notícia de seu paciente aludiriam. O recalque
dessa cadeia de pensamentos no entanto não se efetuou de maneira completa,
uma vez que os nomes evocados por ocasião do esquecimento rememoravam o que
se queria esquecer, conforme o próprio Freud nos aponta. A obturação do
nome Signorelli satisfez o desejo de esquecer em lugar deslocado, e deu
espaço para lembrar o que se queria ser pensado de forma cifrada. Sig, que está contido em Signorelli, é também a forma com a qual Freud assinava suas correspondências com Fliess, e foi, conforme vários comentadores já assinalaram, justamente o elidido, o eu consciente de Sigmund, se poderia pensar. As enunciações
ditas falhas do ponto de vista da consciência vigilante são bem-sucedidas
do ponto de vista do desejo inconsciente e engenhosas e criativas do ponto
de vista da negociação entre recalque e consciência.
O recalque opera diante de uma intensidade tal de afeto em que entram em
conflito um conjunto de pulsões, nomeadas por esse tempo entre pulsões de
autoconservação e pulsões sexuais. Diante deste conflito e de tamanha
intensidade, se funda (e se refunda sempre) a instância inconsciente para a
qual é sobrepujada a representação que se faz inconciliável no jogo de
forças entre o eu e o desejo, digamos por ora assim. O afeto, no entanto,
permanece em circulação e acaba por pegar uma carona entre o corpo e o
psíquico de forma a se religar a uma representação que lhe faça algum
sentido; ainda que este sentido venha em aparência distorcida como vem nas
formações inconscientes. São efeitos de censura ao mesmo tempo que de
expressão de desejos as formações inconscientes - os sintomas, os sonhos,
os atos falhos, os chistes. Na histeria o modo de adoecimento despreza a
anatomia e a fisiologia do corpo em favor de um corpo constituído nos
processos de representação psíquica. Se o sintoma neurótico é feito de
reminiscências o ato falho também é. Nexos perdidos, representações
dissociadas dos afetos que mobilizam engendram conflitos que tomam
expressão sintomática de diferentes formas, intensidades e custo psíquico.
O ato falho é uma formação de compromisso mais vantajosa no que concerne à
economia psíquica do que um sintoma, não é preciso dizer. Talvez porque
lide com uma intensidade de desprazer de forma mais homeopática. Menos
custoso do que uma disfunção no corpo (sintoma histérico), uma série de
ações ou pensamentos em repetição (sintoma obsessivo), ou um terror diante
de um espaço ou objeto (sintoma fóbico), o ato falho é um episódio de
efeito pontual e, muitas vezes, partilhado coletivamente. Enquanto no
sintoma a satisfação libidinal “apresenta uma modificação corporal, isto é,
uma ação interna em vez de externa, uma regressão em lugar de ação” [iii], no ato falho o encaminhamento do
conflito ganha um movimento menos alienante do indivíduo nele próprio. O
ato falho traz consigo o riso, o constrangimento e/ou o espanto pelo
carácter inusitado e trivial em que se tece. A cena aqui é cotidiana,
provavelmente coletiva. Há uma testemunha diante da qual o efeito do ato
falho completa o seu sentido.
A publicação de Freud de 1901, Psicopatologia da Vida Cotidiana,
dá a ver de forma ampla, clara e pormenorizada que a dinâmica do
inconsciente, do desejo, do conflito e do recalque estão em todos, não
apenas no adoecimento e não somente ao dormir. Demonstra que as hipóteses
que sustentam a sua metapsicologia não são nada distantes do homem comum.
Reforça a tese do continuum entre adoecimento e normatividade
psíquica. Demonstra, a quem se debruçar sobre fenômenos vividos no dia a
dia, as noções de sentido e de singularidade desses fenômenos e suas
relações com a biografia de afetos, eventos, memórias e valores de cada um;
consequentemente, a impossibilidade de se admitir leis gerais para decifrar
signos psíquicos. Demonstra ainda a necessidade do método associativo e
interpretativo na elucidação da formação inconsciente.
Enquanto a importância da divulgação desse saber assume um passo importante
na aceitação da psicanálise, sua legitimidade enquanto ciência, terapêutica
e saber sobre o homem, a banalização da mesma também entra em jogo. Contra
a vulgarização da psicanálise, no que diz respeito aos atos falhos, Freud
nos adverte para dois pontos: primeiro, que nem todo esquecimento, lapso,
erro podem ser tomados como ato falho no sentido por ele formulado - isto é
como motivações de desejos inconscientes e turvados por efeito da censura
da consciência, mas sobretudo, que o sentido por trás de tais eventos está
indissoluvelmente imbricado na experiência vivida (história), sentida
(afetos) e pensada (representada) pelo indivíduo acometido por tais
eventos. Segundo, e derivado do primeiro, embora o riso e o constrangimento
sejam partilhados, a interpretação genuína de um ato falho não prescinde da
análise singular, e muito se induz ao erro aquele que se presta à análise
cotidiana selvagem nestas cenas; embora seja feito o tempo todo e a graça
do constrangimento passe também por aí.
Mas afinal de que noção de indivíduo se trata, esse que parece assujeitado a uma série constelar num céu noturno sempre presente e particular? Da
hipótese do inconsciente de Freud, o indivíduo cindido entre consciência e
inconsciente, razão e assujeitamento, presente e passado toma o nome de sujeito na teoria lacaniana. Lacan retomou o termo já difundido na filosofia, na linguística mas o precisa em termos do sujeito do inconsciente. Mais de um século após a clivagem do eu
demonstrada por Freud e metade desse tempo desde a difusão do termo sujeito
por Lacan, nos vemos diante de um amplo discurso científico e cultural que
pouco ou nada reconhecem das forças não conscientes que conduzem a vida
humana. No campo da cultura, por exemplo, a noção de sujeito tomou
inclusive um rumo oposto. Tal como em teorias sociológicas e práticas
educativas, como nos descreve a psicanalista contemporânea Maria Cristina
Kupfer (2010), o termo assume uma torção do sentido psicanalítico. Da ideia
de singularidade do indivíduo deriva uma noção de singularidade que deva
ser manifesta e expressa livremente; o indivíduo-sujeito-racional se torna
aquele que preza por seu grito de liberdade, de autonomia e se vê senhor da
sua história individual e coletiva. Como é bem conhecido da cultura do
nosso tempo, nas áreas da educação, das ciências humanas, da economia
liberal e do materialismo histórico, o sujeito em voga é aquele orientado
pela razão, ponderação, dono de sua ação e consciente de suas escolhas.
Kupfer remonta a Aristóteles para nos lembrar que a tradução latina de subjectum nos ajuda na bifurcação que a psicanálise propõe: “(Subjectum significa) aquilo que está deitado, embaixo, subjacente,
que jaz ao fundo”[iv]. E complementa:
“Este elemento subjacente [subjectum] não está imóvel, e não é de
modo algum uma substância. (...) É um campo em repouso, mas não muito em
repouso, um campo que está furtivamente embaixo, que exige a provocação da
palavra, no entredois, no intervalo, que não está nem em uma pessoa nem em
outra, e que define a interface na qual nos movemos para falar”. (Kupfer
2010, p.267)
O empreendimento freudiano que girou o tempo em que viveu - ao mover o
olhar sobre o mundo visível para a escuta de um mundo invisível, da técnica
do classificar para o sondar, do foco em um alvo preciso para a atenção a
um campo onde as coisas flutuam, da autópsia para as constelações
simbólicas -ainda se faz em curso. Não é nem um pouco estranho a nós, uma
sociedade transferida com a figura do médico, representante por excelência
de um saber cujo primado é da visão e no qual relações de causa e efeito se
pretendem a responder sobre quase tudo, que formações inconscientes tomem
um ar sinistro e até mesmo aterrorizante ao mesmo tempo em que suas
“explicações” possam soar duvidosas ou fugidias. Uma pessoa sente angústia
hoje e mais provavelmente marca uma consulta médica ao invés de ler um
poema, ir a um teatro, um concerto. As formas de organização social da vida
contribuem de sobremaneira ao modo como as pessoas se posicionam
subjetivamente e buscam aplacar ou dançar com suas vertigens. Como se viu,
é legítimo o temor, dada a potência do jogo de forças por trás do que
podemos vigiar e controlar. E pior, “não se trata apenas de supor a
existência de conteúdos desconhecidos por nossa própria consciência, (...)
mas a fabricação de um desconhecimento ativo realizado pela consciência” [v]. Nesse ponto o caso Signorelli é
exemplar. Ilustra também que não há imunidade para os assaltos do
inconsciente. A fuga ou a evitação são tragicamente impossíveis para o metrum humano. O que parece restar: contemplar, divertir-se sempre
que possível e conhecer-se a matéria do que se é feito. E, claro, espreitar
de tempos em tempos as figuras que habitam nossos céus.
São Paulo, novembro de 2018
Referências bibliográficas
Freud, Sigmund. Obras completas, volume 13: Conferências introdutórias à psicanálise (1916-1917)
.São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
Freud, Sigmund. Sobre a psicopatologia da vida cotidiana – Acerca de esquecimentos,
lapsos de fala, enganos, superstições e erros.
Porto Alegre: L&PM, 2018.
Kupfer, Maria Cristina. O sujeito na psicanálise e na educação: bases para
a educação terapêutica. Educação e Realidade, 35(1): 265-281,
2010.
Nunes, Silvia Alexim.
A psicopatologia da vida cotidiana como Freud explica
. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
Ogden, Thomas H. Três formas de pensar: pensamento mágico, pensamento
onírico e pensamento transformador in O Psychoanalytic Quaterly: artigos contemporâneos de psicanálise.
São Paulo: Escuta, 2016.
[i]
Graduada em Ciências Sociais. Fonoaudióloga, membro da Sociedade
Brasileira de Fonoaudiologia, estagiária no Centro de Educação
Terapêutica Lugar de Vida. Aluna do 2o ano do curso
Clínica Psicanalítica: Conflito e Sintoma do Departamento de
Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.
[ii]
“A Herzegovina nunca obteve autonomia, permanecendo sempre como
região da Bósnia ou do estado que a subjugasse. No entanto, devido
a acordos políticos do século XIX, decidiu-se que a região da
Herzegovina deveria sempre ser mencionada no nome da Bósnia, o que
deu origem ao nome Bósnia e Herzegovina.” Wikipedia, 4/11/18.
[iii]
Freud 2014, p. 486.