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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    53 Abril 2020  
 
 
NOTÍCIAS DO SEDES

trama, REVISTA DE PSICOSSOMÁTICA PSICANALÍTICA


CRISTIANE CURI ABUD
MARIA ELISA PESSOA LABAKI [1]



No dia 17 de maio de 2017 nasceu o Departamento de Psicossomática Psicanalítica do Instituto Sedes Sapientiae. Sua fundação foi muito aguardada pelos ex-alunos, colegas e parceiros com quem mantemos forte interlocução ao longo dos anos, através dos encontros teórico-clínicos, simpósios, jornadas clínicas e elaboração das coletâneas.

A tarefa de transmissão da psicanálise e de seu corpo teórico, indissociável da pesquisa, trabalha na clínica da psicossomática com a matéria prima que, nos termos da teoria pulsional, corresponde à polaridade da morte e seus efeitos de destruir, desligar, desinvestir. Das desorganizações psicossomáticas às formas psicopatológicas da neurose, o engajamento clínico se dá neste campo buscando criar elos entre as diferentes expressões do humano: do sensorial às representações, dos afetos à linguagem, dos atos ao sentido. Uma vez concebidos, tais fios de ligação poderão se entrelaçar, criando uma trama fundadora de um tecido constitutivo de uma pele psíquica.

Estamos diante de um trabalho muito desafiador e sofrido, uma vez que as manifestações da pulsão de morte impõem ao fazer clínico, teórico e de transmissão uma problemática referida à violência sem nome e ao excesso sem canalização psíquica. Para lidar com tais fenômenos, o Departamento de Psicossomática Psicanalítica foi construindo dispositivos grupais e institucionais, teares nos quais os fios pudessem se entrelaçar e ganhar um corpo de tecido.

À medida que a construção do departamento se iniciou, a organização das ações assumiu a configuração de Núcleos de Trabalho, seguindo um caráter horizontal. Além do Núcleo de Cursos, do Núcleo do Projeto de Atendimento e Pesquisa em Psicossomática Psicanalítica (realizado no âmbito da Clínica Psicológica do Sedes) e do Núcleo Interfaces e Saúde Coletiva, já existentes enquanto grupos de trabalho, foram criados: o Núcleo de Publicações e Pesquisa, o de Comunicação e Eventos e o de Administração e Finanças. Uma Comissão de Admissão forma-se para o ingresso de novos membros e se desfaz ao final de cada processo. E, como ponto de encontro, articulação e mediação dos diversos Núcleos, temos o Núcleo de Coordenação Geral.

O Núcleo de Publicações e Pesquisa assumiu como tarefa primeira a organização de uma Revista de Psicossomática Psicanalítica, com vistas a divulgar os trabalhos de diferentes atores do cenário de cuidado e atenção à saúde, tanto de membros do Departamento, quanto de autores de outras instituições brasileiras e estrangeiras. trama, é uma revista científica cujo objetivo é divulgar conhecimento referente às relações entre corpo e psiquismo. Para tanto, seu conteúdo contempla questões clínicas, teóricas, metodológicas e epistemológicas e publica trabalhos de diversas orientações psicanalíticas, bem como de suas interfaces com áreas afins, como a medicina e outras relacionadas ao conhecimento humano.

Além de registrar e divulgar a produção dos membros desse Departamento, a revista tem como vocação maior propiciar interlocução com os colegas de outros grupos e instituições, que trabalham direta ou indiretamente com a clínica dos sintomas que se apresentam no corpo, seja pela via da somatização, ou pela via da ação através da relação que o sujeito estabelece com seu corpo. Intercâmbios que já acontecem nos Simpósios e nos livros produzidos poderão se dar de um outro modo por intermédio da revista. Com o apoio de um departamento, a tarefa torna-se mais plural e sustentada por uma equipe de trabalho.

Com seu lançamento realizado em 30 de novembro de 2019 no Instituto Sedes Sapientiae, esperamos de trama, que seja a moldura, o bastidor, onde linhas bordarão palavras e figuras capazes de exprimir nosso delicado fazer clínico.

trama, inicia sua seção de artigos lembrando. Neste primeiro texto, o grupo de autores - que também compõem seu Conselho Editorial - recupera a Memória do Departamento de Psicossomática Psicanalítica, ao contar a história de sua fundação e apresentar os dispositivos clínicos da Psicossomática Psicanalítica, construídos para lidar com o excesso pulsional que extravasa para o corpo. Em “Tristes corpos”, Rubens M. Volich apresenta uma reflexão sobre o valor do reconhecimento das dimensões melancólicas e hipocondríacas presentes na relação do médico com o sofrimento e com o corpo do paciente, decisivas para a experiência de satisfação no exercício de seu ofício. Na interface com a Medicina, Helly Angela Caram Aguida e Luciana Pires de Lima destacam algumas contribuições atuais da neurociência e de sua aplicabilidade nas relações terapêuticas. Sonia Maria Rio Neves parte de Freud para conceituar o traumático, buscando desenvolvê-lo sob novas perspectivas com base em diferentes autores, em especial referidos ao campo da Psicossomática Psicanalítica. Temos ainda o texto de Noemi Evelina de Weber Wahrhaftig, que apresenta um caso clínico de duas pessoas sobreviventes do Holocausto, com sintomas dermatológicos de prurido psicogênico. No que tange a imagem corporal, a adolescência se faz presente, com seus desafios, por meio de uma discussão teórico-clínica com base no referencial da Psicossomática Psicanalítica apresentada por três autores: Wagner Ranña, Mirian Iolanda Rejani e Cristiana Rodrigues Rua. E se faz presente também no tema dos distúrbios alimentares, em que Ana Paula Gonzaga se detém sobre a anorexia, ampliando a discussão sobre aspectos de seu movimento regressivo.

Na seção Ágora nossas convidadas, Ana Flávia de Almeida, Juliana Farah e Maria Helena Fernandes, discutem o tema “A Construção da Ideia de Corpo”, trazendo contribuições sobre o manejo clínico em diferentes frentes, desde a psicanálise de grupo até a concretude presente em uma intervenção cirúrgica da face, passando pela reflexão sobre nosso posicionamento diante do funcionamento dos pacientes com patologias como anorexia e bulimia. Na seção Resenhas, dois livros importantes são apresentados por meio de seus conteúdos essenciais e atuais como pontos de partida para significativas reflexões, quer em nossas práticas teórico-clínicas, quer em nossas práticas institucionais: Psicossomática: de Hipócrates à psicanálise, de Rubens Marcelo Volich, e Psicanálise & saúde coletiva: interfaces, de Rosana Onocko Campos.

Por fim, na seção Monografia, escrita por alunos do Curso de Especialização em Psicossomática Psicanalítica, Susan Masijah Sendyk apresenta o fenômeno da dor como elemento constitutivo do sujeito, resultado do entroncamento pulsional mortífero e, ao mesmo tempo, vital, uma vez que aponta para a busca de sentido, de simbolização através do encontro terapêutico.

O próximo número de trama, sairá em novembro de 2020. Estará recebendo propostas de artigos até o dia 04 de maio de 2020. Contamos com a participação de todos!

À propósito, na imaginação dos que criaram a revista (trama,), a presença do corpo em seu nome se dá na vírgula – a mais breve pausa prosódica que permite respirar. Respirar, respirar e respirar.





[1] Psicanalistas, membros do Departamento de Psicanálise e do Departamento de Psicossomática Psicanalítica do Instituto Sedes Sapientiae.




 
 
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