RUBIA DELORENZO [1]
Os olhos estão cheios.
Cheios de choro. Cheios de sono.
Cheios de infinito cansaço.
Cheios de dor.
Os olhos pesam. Carregam imagens escuras.
Estão cegos. Negros de pesar.
A moça carrega no ventre seu bebê e duvida.
Olha-se no espelho.
A barriga é vista frouxa e pequena.
Quando apalpada é feita de pedra.
Está dura.
Tudo imóvel em seu corpo de mãe.
Inquietante quietude.
Coração sem compasso.
O que fazer pela moça que se atormenta? Pelos olhos inchados, lodosos, cheios de água e areia, o que fazer?
E a moça?
Eu carrego a moça e duvido.
Como pode o oco fazer-se em ninho?
Desejo envolvê-la em mantilhas.
E levá-la ao encontro de um berço
móbile, brando, cálido.
Abrigo para aquele que desponta.
Julho 2020
[1] Psicanalista. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. Colaboradora deste Boletim.