RUBIA DELORENZO [1]
Em tempos de peste não se velam mais os mortos.
Quase vivos são enterrados quase mortos.
Valas abertas às pressas.
Corpos deixados no chão das ruas. Ao relento, desabrigados.
Empilhados nos portões dos cemitérios.
Vi em sonhos corpos desabados em Auschwitz.
Quase vivos são empilhados quase mortos.
Vi a menininha de casaco vermelho já sem vida, inerte sob seu capuz encarnado.
No auge do horror perdeu-se a força plástica da morte.
Seus ritos.
Somente sua força crua se escancara.
Sem ritos.
Fim.
maio 2020
[1] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, colaboradora deste Boletim.