Silvia Leonor Alonso[i]
A ideia de filiação do nosso Departamento a uma federação mais ampla teve uma incubação longa. Na gestão do Conselho de Direção 2006-2008, na qual participei como articuladora de relações externas, abriu-se uma conversa sobre a importância do Departamento dar mais este passo. Cheguei a realizar e compartilhar com os colegas uma pesquisa sobre as opções e a FLAPPSIP já naquela época apareceu como uma possibilidade, no entanto naquele momento não foi possível levar em frente a ideia, que ficou guardada até três anos atrás. A retomada se deu no cruzamento de várias condições favoráveis: a disponibilidade do Conselho de Direção em se ocupar deste processo, a interrogação vinda de mais de uma das associações da Federação que tinham contatos com colegas do Departamento sobre por que não nos incluirmos, o fato de nesse momento a sede da Federação ser em Porto Alegre e o investimento feito pelos colegas de lá para fazer crescer a Federação no Brasil, o que facilitou a conversa e troca de informações para concluir este processo. Um ano de troca de informações, gestões dentro da instituição Sedes e tramitação na FLAPPSIP terminou num pedido de inclusão aprovado no congresso de Porto Alegre de maio de 2017 e desde então todos os membros do Departamento de Psicanálise e alunos do Curso de Psicanálise passamos a ser filiados à Federação.
Fazer uma psicanálise comprometida com a realidade social e histórica, ter a pluralidade como princípio tanto nos referenciais teóricos que norteiam cada associação como nos seus princípios organizativos e de formação são fundamentalmente os pontos de identificação entre as associações que a ela pertencem. A temática escolhida para os congressos bianuais e os eixos temáticos dos mesmos são expressão deste compromisso com a realidade social e histórica; o Congresso de 2017 foi denominado Psicanálise em um mundo em transformação, para o qual fui convidada a participar de uma das mesas interinstitucionais sobre o tema Luto e melancolia, em comemoração aos 100 anos do texto, e um número significativo de colegas apresentou trabalhos nos temas livres — todos os textos se encontram nos anais do Congresso no site da FLAPPSIP: www.flappsip.com. Desde maio de 2017 viemos realizando o trabalho nada simples de inclusão do Departamento na Federação e da Federação no Departamento, caminho longo com muito trabalho ainda pela frente.
Funcionamos com dois delegados, um que é o articulador de relações externas, nesta gestão Roberta Kehdy, e um delegado membro do Departamento, além de um contato com a revista (até agora Renato Mezan). Temos também um grupo de apoio formado por Alessandra Sapoznik, Cristina Herrera, Mario Fuks e Nanci Lima.
Anualmente há um encontro dos delegados no lugar sede, sendo que esta vai sendo rodiziada entre as associações de dois em dois anos. Este encontro alternadamente coincide com um Congresso ou com um Simpósio clínico, ambos abertos aos membros das associações. O simpósio deste ano em Montevidéu contou com a presença das representantes do Sedes.
A Federação publica uma revista virtual: Intercâmbios psicanalíticos, com duas edições por ano, sendo que cada associação pode publicar um texto em um número e uma resenha no outro. Neste ano enviamos para publicação no primeiro semestre o texto “O racismo nosso de cada dia e a incidência da recusa no laço social” de Tania Corghi Veríssimo, aspirante a membro do Departamento.
Ademais, as associações podem oferecer cursos virtuais através da plataforma FLAPPSIP, com 4 ou 6 aulas de temáticas de interesse geral. Este ponto ainda exige uma discussão a ser feita dentro do Departamento.
Uma vez por ano, as associações realizam uma mesa FLAPPSIP na qual convidam a participar um representante de outra das associações, por exemplo neste ano o Círculo Psicanalítico de Rio de Janeiro programou para novembro uma mesa FLAPPSIP sobre o tema do trauma, para a qual convidamos a nossa colega Myriam Uchitel, que coordena o grupo de trabalho sobre este tema em nosso Departamento.
Em maio de 2019 será realizado em Montevidéu, atual lugar sede da Federação, o Congresso sobre o tema Configurações atuais da violência, desafios à psicanálise latinoamericana. Estamos divulgando a convocatória do Congresso assim como as normas de apresentação de trabalhos, cursos e oficinas e esperamos que os colegas se disponham a participar. A data limite para o envio dos resumos é 15 de outubro.
Em cada Congresso se entrega um prêmio para o trabalho escolhido entre os enviados pelos alunos do curso de formação; a seleção é feita por representantes de três associações da Federação e neste próximo Congresso um dos membros do júri será de nossa instituição. Estamos neste momento também divulgando as normas para participação neste concurso entre os alunos do Curso de Psicanálise.
O trabalho dos delegados e do grupo de apoio neste ano e meio tem sido, por um lado, o de responder aos pedidos recebidos e divulgar a Federação e os eventos das associações da Federação mas juntamente com isto fomos realizando no grupo de apoio uma reflexão sobre quais os critérios em cada uma das situações — até agora vamos nos guiando pela ideia de que aproveitar os dispositivos já existentes no Departamento facilita o caminho das escolhas e simultaneamente fortalece os mesmos. A cada vez que temos que sugerir um nome para participar de alguma das atividades seria inviável fazer uma convocatória a todos os membros interessados, já que somos um Departamento com muitos integrantes e muita produção. Pensamos então que como os dispositivos que funcionam no Departamento são abertos e os membros que estão interessados em comunicar seus trabalhos podem fazê-lo neles, seja pelas publicações, grupos de trabalho, cursos etc., seguir este caminho para as escolhas é uma possibilidade bem democrática.
Por exemplo, o artigo enviado para publicação é um artigo publicado na Percurso e em um dos livros do Departamento e é sobre uma temática que tem tido um importante espaço de reflexão no Departamento, a do racismo. Para nos representar na mesa FLAPPSIP no Rio escolhemos a coordenadora de um grupo de trabalho sobre o tema que já existe no Departamento. Para enviar ao Simpósio clínico escolhemos um trabalho que fora apresentado nas Inquietações da clínica cotidiana, e para ser júri do concurso vamos sugerir algum professor do Curso de Psicanálise, que tem a prática de avaliar os trabalhos de monografias dos alunos. Resolvemos que as resenhas a serem enviadas para a revista serão sobre os livros publicados pelo Departamento. Ou seja, temos estado atentos a estabelecer formas democráticas de funcionamento, que ao mesmo tempo permitam agilidade e que aproveitem e fortaleçam o que já existe.
A avaliação que podemos fazer até agora de nossa pertinência à Federação é que nos parece muito enriquecedora, para o Departamento, a possibilidade de troca com outras associações sobre a clínica, a formação, a psicanálise, conhecer como os psicanalistas pensam e trabalham na América Latina. Ao mesmo tempo, podermos divulgar o pensamento e as produções de nosso Departamento em vários países, mas sabemos que requererá muito trabalho pela frente para que a Federação entre com mais força no cotidiano de nosso Departamento.
Temos realizado conversas informativas sobre o trabalho na Federação para os membros, e a última foi no dia 30 de agosto.
[i] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, onde é professora e supervisora do Curso de Psicanálise e coordenadora do grupo de trabalho e pesquisa O feminino e o imaginário cultural contemporâneo. Delegada do Departamento na FLAPPSIP.