DA ANGÚSTIA AO CÁRCERE: RETRATOS DO MAL-ESTAR INFANTIL EM GRACILIANO RAMOS

 

Guilherme Bernardes de Oliveira Petronzio

UFMG

 

 

Eixo temático – FORMAS DE EXPRESSÃO DO SOFRIMENTO NA INFÂNCIA

 

 

RESUMO

 

O artigo tem como objetivo encontrar subsídios para a compreensão da infância e o seu mal-estar a partir da análise da trajetória de um reconhecido escritor da literatura brasileira: Graciliano Ramos (1892-1953). Seguindo a metodologia da interpretação psicológica literária, conforme a abordagem crítica de Dante Moreira Leite (1927-1976) e desenvolvimentos conceituais psicanalíticos freudianos como os encontrados em “Lembranças encobridoras” (1899), “Escritores criativos e devaneio” (1908 [1907]) e “O mal-estar na civilização”(1929), procurou-se identificar aspectos especificos da subjetividade do autor em contraponto àqueles considerados universais da temática em estudo para analisar questões do tipo: “O que é a infância?”;“Como é a relação entre as crianças e os adultos?”;“Como enfrentamos os dramas existenciais enquanto crianças?”;“Qual a repercussão da infância na vida adulta?”; para finalmente entendermos se é possível transpor o tempo da escrita moderna regionalista e colocá-los na atualidade do nosso debate ou, ao contrário, relegá-los ao passado. Optou-se por Graciliano Ramos porque ele elege a criança como favorita no seu projeto literário entre as diversas personagens possíveis, aparecendo no decorrer de suas obras sob diversas formas e destinos, mas sempre como porta-voz do trágico existencial, exprimindo um autêntico sofrimento, seja como representação nas fragilidades da nossa relação com o outro em Infância (1945), Angústia (1936) e Memórias do cárcere (1953); seja como protagonista em meio as experiências sublimes de amadurecimento em Vidas Secas (1938) e A terra dos meninos pelados (1937). Em segundo plano, porém não menos importante, extraiu-se reflexões pertinentes sobre os modos de enfrentamento da violência na infância, pensando em suas raízes históricas, culturais e sociais para questionarmos o que Graciliano do século passado tem a nos dizer sobre o mal- estar infantil contemporâneo, mais especificamente, o que pode retratar um escritor nordestino sobre a realidade da criança brasileira. Espera-se ao final que o artigo dê suporte para responder tais dúvidas colaborando para o próprio avanço téorico-clínico da Psicanálise infantil no nosso contexto de atuação nacional.

 

 

PALAVRAS-CHAVE: infância, literatura, sofrimento, adultos

 

 

Guilherme Bernardes de Oliveira Petronzio, graduando em Psicologia pela UFMG com enfâse em clínica. Atualmente trabalha na área de Psicanálise infantil participando como membro voluntário da equipe do Projeto Cavas-UFMG. É poeta e administrador do blog “Psicologia do Imaginário”.