REFLEXÕES SOBRE A CONSERVAÇÃO DO OBJETO E O TRABALHO
DA DUPLA ANALÍTICA À LUZ DE UM CASO CLÍNICO

 

Julia Eid

Departamento Psicanalise com crianças - Sedes

 

 

Eixo temático – O TRABALHO DE REPRESENTAÇÃO

 

 

RESUMO

 

O objetivo deste trabalho consiste em refletir sobre aspectos da constituição do Eu, especifica-mente naquilo que diz respeito à conservação do objeto, à luz de um caso clínico, levando em conta aspectos do trabalho da dupla analítica. Daniel, 6 anos, é trazido para a análise por seus pais porque desde que foi desfraldado, se recusa a fazer cocô no vaso, evacuando sempre na cue-ca. A partir das primeiras entrevistas, o que parece estar em jogo, em termos de constituição psí-quica, é que Daniel ainda não fez uma discriminação dos objetos: a diferenciação entre Eu e não-Eu não está clara para ele. Teme que seus objetos desapareçam, teme ser tomado pelas coisas que podem fazê-lo desaparecer. Ele não tem controle sobre as coisas da vida e sente-se ameaçado. A permeabilidade das fronteiras que demarcam eu/não-eu provocam neste menino um constante sentimento de insegurança e perigo. No trabalho de análise, Daniel encontra a partir da relação transferencial a possibilidade de investigar, criar, produzir e reproduzir as suas vivências a partir de um lugar ativo. As delimitações de “dentro” e “fora” são investigadas e experimentadas por inúmeros caminhos, assim como a questão da separação e união dos objetos. A partir da confiança que pode sentir junto à presença viva da analista, as separações podem acontecer sem que o que esteja em jogo seja ele se perder. Sentindo-se seguro, coloca em curso um trabalho de simbolização de suas vivências, encontrando condições para diferenciar-se do objeto. Num recurso à teoria, proponho um breve percurso para investigar por onde passam os caminhos da constituição do Eu, especificamente no que concerne aspectos da analidade, a partir do conceito de analidade primária de Andre Green (2004). Em seguida, proponho pensar a situação analítica a partir do modelo do jogo (Freud (1920); Roussillon (2007)) retomando alguns pontos do caso clínico com o intuito de refletir sobre as transformações que aconteceram no trabalho com esta criança.

 

 

Referências Bibliográficas:

 

FREUD, Sigmund. (1920) Além do Princípio do Prazer. Obras Completas volume 14. São Paulo: Companhia das Letras, 2010 GREEN, Andre. (2004). Analidade Primária. Relações com a Organização Obsessiva. In: Revista Ide, número 40. São Paulo. ROUSSILLON, René. (2007) A Perlaboração e seus modelos. Comunicação apresentada no congresso da IPA, Berlim.

 

 

Julia Eid, Psicóloga (PUC-SP), Psicanalista, membro do Departamento Psicanálise com Crianças do ISS.