DO SOFRIMENTO À BRINCADEIRA: A EDUCADORA E O MAL-ESTAR NA CRECHE
Karina Bueno
Faculdade de Educação USP/SP
Eixo temático – A ESCUTA PSICANALÍTICA NA CLÍNICA AMPLIADA – O SOFRIMENTO DA CRIANÇA E O TRABALHO EM INSTITUIÇÕES
RESUMO
Como bem demarcou Freud em 1913, a investigação psicanalítica não precisa ficar restrita ao âmbito da cura, mas sim, se articular a outras áreas do saber. Uma dessas áreas é a educação e fundamentalmente, os impasses frente ao processo civilizatório que culminam no mal-estar inerente do conflito entre as moções pulsionais do sujeito e a socialização. Conflito este que aparece constantemente dentro dos muros escolares, implicando educadores, pais e especialistas a pensarem em estratégias de sustentar este conflito, escutá-lo, simboliza-lo ou apenas aplacá-lo com artifícios medicalizantes e/ou pedagógicos.
Ao serem integrados à Educação Infantil desde 1996, as creches e os berçários brasileiros ganharam um novo caráter, não mais assistencial, mas sim educativo. Nota-se que as crianças são inseridas ao universo escolar cada vez mais cedo. Deste modo, as instituições destinadas à primeira infância (zero a três anos de idade) precisam lidar com o desafio de educar os bebês a fim de que se tornem ‘alunos’. No cotidiano de uma creche diversos impasses frente a este desafio surgem a todo momento: a organização de grades de rotina que promovam a educação e interação coletiva ao mesmo tempo em que possam atender as necessidades singulares de cada criança; adaptar crianças que ‘só brincam’ à um modelo pedagógico de ensino; lidar com escapes, choros, mordidas, fugas, desobediências dos pequenos que são constantemente lidos como afrontas ao educador.
Nesse sentido, objetivamos trabalhar os impasses que aparecem entre o campo ‘pedagógico’ e o campo ‘pulsional’ quando estamos frente a uma criança dentro de um espaço institucional educativo. A partir de um recorte de nossa experiência enquanto educadora em um berçário, almejamos apontar uma via possível de escuta de um mal-estar e seu desdobramento em uma brincadeira. Como de um choro angustiado chegamos a um jogo simbólico (Fort-dá), para depois transformá-lo em um ‘pega-pega’ com a turma no parquinho?
PALAVRAS-CHAVE: psicanálise; educação; mal-estar; adaptação.
Karina Bueno, Mestranda no programa de pós-graduação da Faculdade de Educação com financiamento CNPQ, membro integrante do Laboratório de Estudos e Pesquisas Psicanalíticas e Educacionais sobre a Infância – IP/FEUSP e psicanalista clínica em consultório particular.