APADRINHAMENTO AFETIVO – LAÇOS AFETIVOS CONTÍNUOS E TRANSFORMADORES

 

 

Maria Lucia Hargreaves

Grupo Acesso, Sedes Sapientae

 

 

Eixo temático – A ESCUTA PSICANALÍTICA NA CLÍNICA AMPLIADA. O SOFRIMENTO DA CRIANÇA E O TRABALHO EM INSTITUIÇÕES.

 

 

RESUMO

 

Objetivo do trabalho: Refletir sobre as possibilidades do olhar psicanalítico diante da dura realidade das crianças institucionalizadas.

 

Pertinência do tema: A reintegração social e afetiva das crianças e adolescentes institucionalizados através de novas conexões vinculares, o grupo do apadrinhamento afetivo.

 

A equipe de psicanalistas do projeto “Apadrinhamento-Sedes” do grupo Acesso, desenvolve sua prática junto às instituições de acolhimento, às equipes dos SAICAS, Casas Lares, CREAS e as Varas da infância e juventude de São Paulo. Este texto traz reflexões sobre como nasce e floresce o laço afetivo no apadrinhamento. Este trabalho nos convida a acreditar na formação renovadora de vínculos acolhedores e contínuos que sustentem a reserva narcísica necessária para a contenção e processamento do histórico de desamparo, nas crianças e adolescentes acolhidos. A experiencia do processo do apadrinhamento, faz despertar uma crença, uma aposta em vínculos alternativos e transformadores frente à acalentada ilusão da adoção, no imaginário das crianças abrigadas. Mas como desconstruir a solidez dessa ilusão? Apostamos na construção de laços afetivos estáveis que possam proporcionar novas ligações identificatórias ou seja, os padrinhos como uma referência vincular positiva, satisfatória, suficientemente boa e transformadora através da continuidade do apadrinhar. A multiplicidade de fatores determinantes neste processo solicita uma escuta psicanalítica flexível que se reinventa de acordo com as experiencias no campo vivo com o outro, considerando as caraterísticas singulares à cada sujeito e à cada grupo constituído. O singular e o coletivo operando dialeticamente na constituição de um vínculo afetivo e transformador entre padrinhos e afilhados. Mas como falar de vínculo sem falar do inconsciente? Como germinar um laço amoroso autentico e confiável entre grupos de sujeitos com realidades tão diferentes e inteiramente desconhecidos entre si? A psicanalise nos ajuda a pensar sobre esta complexa e delicada tarefa grupal, o entrelaçamento das diversas expectativas, desconfianças e sonhos de todos os envolvidos, crianças, adolescentes e padrinhos do projeto. As reuniões são continuamente atravessadas pela diversidade das representações e do imaginário dos grupos participantes. Estamos no campo das múltiplas projeções, transferências cruzadas e dinâmicas da intersubjetividade que nos convocam a instigante tarefa enquanto psicanalistas, de abrir possibilidades de significar e processar junto aos integrantes do projeto, estas importantíssimas experiências compartilhadas no estabelecimento de vínculos afetivos permanentes entre padrinhos e afilhados. Estamos diante do potencial subjetivante e transformador do grupo dos padrinhos frente ao desamparo institucional.

 

 

PALAVRAS-CHAVE: holding, espaço potencial, intersubjetividade, objeto transformacional.

 

 

Atividade atual: grupo Acesso- núcleo apadrinhamento afetivo, Sedes Sapientae, e consultório: crianças-adolescentes, casal-família. Atividades anteriores: CAPS; IPSO-Instituto psiquiatria social, atendimento e supervisão; Comunidade Terapêutica Enfance.