A FILMOGRAFIA INFANTIL COMO AUXÍLIO TERAPÊUTICO PARA O ENFRENTAMENTO DO TRAUMA: POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES
Matheus Ferreira de Castro
graduando em psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais
Olívia Ameno Brun
graduanda em psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais
Eixo temático – O TRABALHO DE REPRESENTAÇÃO: VIAS DE SIMBOLIZAÇÃO
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo explorar os diferentes usos da filmografia na clínica infantil do trauma partindo da leitura de Freud, Melanie Klein em Sobre a teoria da ansiedade e da culpa (1948) e A importância da formação de símbolos no desenvolvimento do ego (1930), e Ferenczi em Confusão de línguas entre adultos e crianças (1933). Inserido no eixo O trabalho de representação: vias de simbolização, selecionamos três filmes infantis cujas temáticas afluem na clínica do traumatismo: Frozen (2014), Meu Amigo Totoro (1995) e 7 Minutos depois da Meia- Noite (2016). Ainda que exista um tensionamento entre psicanálise e cinema, os desenvolvimentos da indústria cinematográfica tornaram os filmes elementos culturais importantes, que atravessam os processos de constituição dos sujeitos. É nesse sentido que o diálogo se estabelece, na medida em que a psicanálise é convidada, pelos próprios pacientes que trazem os filmes para o setting analítico, a se apropriar dessas produções enquanto materiais indispensáveis ao processo terapêutico. Nesse contexto, resta-nos questionar: Quais os limites do cinema enquanto suporte de simbolização para a criança? Recorremos a alguns teóricos como Deleuze, em Imagem-movimento (1983) e Rancière, em O inconsciente estético (2001), na tentativa de investigar as potencialidades e limitações da filmografia enquanto dispositivo de significação para a criança. Tendo em vista que os filmes trazem significados que refletem as demandas da criança no setting analítico em sua especificidade subjetiva, esses podem ser utilizados como vias de identificação, simbolização e amparo ao processo de luto em relação às situações traumáticas. Ressalta-se a importância da intervenção terapêutica no sentido de não permitir que aconteça certa cristalização identificatória em relação a personagens e temáticas apresentadas nos filmes, fenômeno que inviabiliza o trabalho adequado de simbolização da situação traumática. Essa dinâmica evidencia uma possível limitação da técnica, isto é, quando é submetida sem o aporte das trocas sociais ou na ausência de um ambiente suficientemente bom. Por fim, a elaboração psíquica do trauma ainda gera muitas reflexões, sendo comumente acompanhada por dificuldades de simbolização, restando apenas o silêncio em muitos casos. Acreditamos que um ambiente suficientemente bom aliado à escuta sensível pelo terapeuta-adulto, garantem suporte ao uso do universo cinematográfico infantil como estratégia favorável no auxílio ao processo, tão doloroso, de elaboração do trauma.
PALAVRAS-CHAVE: Psicanálise; Trauma Infantil; Simbolização; Filmografia.
Matheus Ferreira de Castro é graduando em psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, bolsista de iniciação científica pelo CNPq e integrante do Projeto CAVAS/UFMG desde agosto de 2017.
Olívia Ameno Brun é graduanda em psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, bolsista de iniciação científica pela Fapemig e integrante do projeto CAVAS UFMG desde novembro de 2016.