REFLEXÕES SOBRE POSSÍVEIS EFEITOS DA VIRTUALIZAÇÃO NA PARENTALIDADE A PARTIR DE COMENTÁRIOS RECEBIDOS NO BLOG NINGUÉM CRESCE SOZINHO

 

Patrícia L. Paione Grinfeld

Ninguém Cresce Sozinho

 

Silvia P. L. Bicudo

Instituto Sedes Sapientiae e Ninguém Cresce Sozinho

 

 

Eixo temático – HISTÓRIA E CULTURA (PRESENÇA DA TECNOLOGIA EM NOSSAS VIDAS)

 

 

RESUMO

 

Se em 1976, Françoise Dolto, aceitou, não sem hesitação, o desafio de participar de um programa de rádio no qual respondia às cartas de pais com perguntas a respeito da educação e desenvolvimento de seus filhos, 40 anos depois indagamos: de que forma nós, psicanalistas, podemos estar “à serviço da infância” (expressão de Dolto) ocupando os veículos de comunicação que atualmente são, em sua maioria, virtuais? E ainda, quais serão os efeitos da virtualização na parentalidade?

 

Para refletir sobre estas questões, partimos da análise dos comentários de mães e pais com dúvidas e pedidos de ajuda e/ou orientação endereçados à Ninguém Cresce Sozinho – rede de psicólogas e psicanalistas que tem por objetivo oferecer informação, reflexão e suporte emocional a bebês e crianças, e a homens, mulheres e profissionais que se deparam com questões relacionadas à primeira infância e ao processo de se tornar pai e mãe, incluindo o período anterior à concepção ou adoção. Observamos como tais comentários nos são dirigidos, o lugar híbrido “máquina-especialista” em que somos colocadas pelos leitores e possíveis implicações dessa posição. Assim, ancoradas nas postulações de Jerusalinsky (2018) sobre a desconexão entre pais e filhos promovida pelas tecnologias, tecemos algumas considerações sobre o quanto esta desconexão também ocorre entre os pais e suas próprias experiências e referências parentais, de modo a confiar ao Outro (virtual), o saber ao redor de quem é aquele que pergunta, quem é a criança em questão e qual o laço que se estabelece entre eles.

 

Por fim, a partir de fragmentos de alguns comentários, resgatamos os três tempos propostos por Lacan (1945) – o instante de ver, o tempo de compreender o tempo de concluir – sinalizando que a demanda tecnológica pelo imediato, aliada ao horror que algumas situações vividas pelas crianças na infância despertam nos pais, parecem provocar um achatamento destes três tempos, impedindo a construção de soluções que contenham uma construção de sentido para a experiência em questão.

 

Assim, nos parece que umas das formas interessantes de se ocupar os espaços virtuais enquanto psicanalistas é na sustentação do tempo de compreender, remetendo às perguntas que nos chegam aos próprios interrogadores e promovendo furos na crença de que o saber se encontra no Outro (virtual).

 

 

PALAVRAS-CHAVE: parentalidade, redessociais, intoxicaçõeseletrônicas, perguntasaoespecialista

 

 

Patrícia L. Paione Grinfeld, Psicóloga formada pela PUC-SP. Idealizadora e co-fundadora da rede Ninguém Cresce Sozinho. Com pós- graduação em Psicoterapia de Casal e Família (PUC-SP) e em Psicanálise na Perinatalidade e Parentalidade (Instituto Gerar).

 

Silvia P. L. Bicudo, Psicóloga formada pela PUC -SP e psicanalista com formação no departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e especialização em Psicologia Perinatal pelo Instituto Gerar. É membro da rede Ninguém Cresce Sozinho.