BORDAS E CONTORNOS EM UM CASO DE ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO

 

Taísa Nerath Martinelli

 

 

Eixo temático – A ESCUTA PSICANALÍTICA NA CLÍNICA AMPLIADA

 

 

RESUMO

 

O Acompanhamento terapêutico (AT) é um dispositivo que pretende acompanhar pessoas em situação de sofrimento intenso e com entraves psíquicos estruturais em sua constituição. O trabalho acontece no mundo, num setting diferente do tradicional e, por isso, pode ser considerado uma modalidade da clínica ampliada.

 

Se orientado pela ética da Psicanálise, o acompanhante terapêutico (at) se coloca como faltante na relação, como alguém que não sabe de tudo. Ao contrário, o acompanhado é colocado como protagonista e, assim, como detentor de um saber. Ao sustentar o desejo de forma viva, acompanhante a acompanhado constroem novas possibilidades de estar no mundo e de encontros com o social.

 

O fazer junto, estar junto em cenas de muita intimidade no cotidiano, possibilita que o at escute o que existe de mais vital nos interesses daquele sujeito e o ajude a produzir um lugar no mundo e no laço com o outro. Ao se fazer parceiro no mundo, ao operar na cena vivida é que o at faz a função de at.

 

No caso de crianças, o AT muitas vezes se dá na escola, local onde costumam aparecer impasses nas relações e situações de intenso sofrimento psíquico. Demandam ajuda para pensar a pertinência daquela criança no que tange não apenas ao grupo de alunos, mas também à aprendizagem.

 

Foi esse o contexto em que se deu o trabalho com um garoto de cinco anos, que parecia vivenciar tardiamente os jogos precursores do Fort-da. Ele estava construindo bordas e, para acompanha-lo, foi preciso extrapolar as paredes da escola. Os encontros passaram a acontecer também em casa e, depois, nas ruas, padarias, parques... Por vezes com a família e amigos, por vezes apenas acompanhante e acompanhado.

 

O caso deste garoto será apresentado de modo que possibilite discutir questões relativas ao trabalho em um setting não tradicional como o AT orientado pela ética psicanalítica.

 

 

PALAVRAS-CHAVE: acompanhamento terapêutico, setting, ética da psicanálise, jogos precursores do Fort-da.

 

 

Taísa N. Martinelli é psicóloga formada pela PUC/SP e acompanhante terapêutica. Estuda e trabalha com Educação Inclusiva e atualmente cursa o segundo ano da especialização “Psicanálise com crianças” no Instituto Sedes Sapientiae.