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INFORMATIVO ONLINE SOBRE AS ATIVIDADES DO DEPARTAMENTO
PSICANÁLISE COM CRIANÇAS DO INSTITUTO SEDES SAPIENTIAE

 
ANO VII | Número 13 | edição agosto a dezembro de 2020  
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A Clínica Psicanalítica com Crianças e a Luta Antimanicomial

Marcia Porto Ferreira 1

   

 

Dia 3 de dezembro passado, recebemos, estarrecidos, a publicação de uma portaria expedida pelo atual Ministério da Saúde intitulado “Diretrizes para Atenção Integral à Saúde Mental”, que impõe o desmonte de uma árdua construção de políticas públicas executadas pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

No dia seguinte, 4 de dezembro, uma grande reação a esse ataque formou a Frente Ampla em Defesa da Saúde Mental, da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial, da qual a Diretoria do Instituto Sedes Sapientiae declarou ser vigorosamente participante. Não poderia ser diferente, até porque a Luta Antimanicomial faz parte da história do Instituto Sedes Sapientiae. 

Na década de 1990, os corredores deste Instituto, incontáveis vezes e de diversas formas, foram palco da organização de debates e congressos nacionais, com a proposta de mudar a perspectiva de uma política vigente de cuidados com a “doença mental”,  para uma outra que visa a promoção da “saúde mental”.  Ou seja, uma proposta de reforma de uma psiquiatria asilar, excludente, organicista, mercantilista, patologizante das formas singulares de expressões subjetivas.

Parece-me ser uma defensável forma de contar um tanto dessa história se referendarmos o importante papel da Diretoria do Instituto na defesa dos Direitos Humanos, com sua vontade política dos idos da década de 90 e de agora, assim como as importantes contribuições advindas de uma ética psicanalítica que, sob hipótese alguma sustenta práticas que visam o apagamento dos sujeitos.

Pode parecer, ilusoriamente, que a Luta Antimanicomial pouco tem a ver com a clínica psicanalítica com crianças. Sem a pretensão de ser suficientemente precisa e justa neste breve comunicado, gostaria de continuar contando histórias.

Perto da década de 1980, eu e vários membros do Departamento de Psicanálise com Crianças trabalhávamos num lugar tido como a vanguarda da Psiquiatria Infantil: a Comunidade Terapêutica Enfance, dirigido pelo inesquecível Di Loretto.  Wagner Ranña, Marcia Gimenez, Mariângela Mendes de Almeida, Josefina Martins e a saudosíssima Magali Marconato poderiam me ajudar a contar como adorávamos esse trabalho que... internava crianças! Outros membros deste Departamento (Mary Ono, Afrânio, Lila, entre outros) chegaram a conhecer verdadeiros hospícios para crianças, como o Hospital Eldorado de Diadema, que pouco se diferenciava dos horrores de Barbacena, conforme nos conta o filme “Holocausto Brasileiro” da Daniela Arbex.  Imprescindível relatar que a Comunidade Terapêutica Enfance se transformou em um serviço muito similar aos CAPSIJs, e Di Loretto num dos mais aguerridos batalhadores pela Reforma Psiquiátrica, pela Luta Anti-manicomial, enfim.

Acho que estamos em tempos de não duvidarmos de até onde os retrocessos podem chegar quando temos em vigor uma lógica genocida, quando o ser humano não importa.

Por isso, estamos muito preocupados e empenhados em resistir a todas as ameaças dos tratamentos dignificantes e inclusivos, como têm sido, por exemplo nossas participações com trabalhos e manifestos nos cuidados junto às crianças portadoras da síndrome autística, fortes candidatas aos abusos das indústrias farmacêuticas, de serem reclusas pelas escolas que pregam a educação especializada (excludente) e pelos antigos manicômios.

Agradeço demais à Alessandra Barbieri pelo convite para escrever essas linhas, esperando por outras que possam dar seus testemunhos sobre formas não só de reagir, mas de permanentemente criar.

Por uma sociedade sem manicômios, seguimos em FRENTE.

 

1 Marcia Porto Ferreira é psicóloga, psicanalista, mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, professora e supervisora do curso Psicanálise com Crianças do Departamento Psicanálise com Crianças, co-coordenadora do Departamento Psicanálise com Crianças e coordenadora geral do Núcleo Acesso do Instituto Sedes Sapientiae. É autora de vários livros e artigos.

 

 
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