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Resumo

QUANDO O NÃO DITO FAZ SINTOMA NA GERAÇÃO SEGUINTE: REFLEXÕES SOBRE A ORIGEM A PARTIR DA ANÁLISE DE UM MENINO DE 5 ANOS

Autora: Daniele John

Psicóloga e psicanalista. Formou-se em psicologia na UFRGS e fez especialização em psicanálise na Clínica de Atendimento Psicológico da UFRGS, mestrado em Estudos Psicanalíticos na Tavistock Clinic em Londres e doutorado em Psicologia Clínica na PUC-SP. Atua em consultório particular, é docente do curso de psicologia da UNIP e do curso de formação em psicanálise do CEP.

Como uma criança dá conta de sua origem e do lugar a ela destinado no desejo de seus pais? Como ela pode lidar com o que herda de não-elaborado das gerações anteriores? Ser filho de um outro que não os pais biológicos, descreveu Freud em Romances Familares, é uma fantasia bastante comum, que aponta para o fato de que a questão da origem para um sujeito sempre demanda uma boa dose de trabalho psíquico. Proponho pensar estas questões fundamentais para a psicanálise a partir de um caso clínico no qual a transmissão psíquica transgeracional se coloca de forma exemplar, isto é, o não-dito da geração anterior tem como destino um sintoma na criança. Trata-se de um menino de 5 anos vem para análise por enfrentar uma enorme dificuldade em acatar a qualquer regra ou combinado. Eis que em seu brincar surge repetidamente e de inúmeras formas, a questão da adoção. Um bebê é jogado no lixão, mordido e mal tratado repetidamente enquanto o menino diz a ele: seus pais não querem você! Um E.T., filho adotivo de uma mãe da terra, e que não sabe que é adotado, não pode acatar as leis da terra, pois as leis do seu lugar de origem são outras. Um personagem, encarnado pelo menino, é jogado junto de outras crianças abandonadas, cujos pais as deixaram ali por  não serem aquilo que os pais esperavam . E assim por diante. Bem, este menino não é adotado, sua mãe sim. E o mais incrível é que ele nada sabia da história dela. Sua mãe nunca havia lhe contado sobre sua própria história, já que os pais adotivos dela, avós do menino, também nunca haviam falado nada a ela sobre a adoção. Ela descobrira sua origem por conclusões próprias, já adulta, mas ainda que sua mãe tenha confirmado sua hipótese, nada falam sobre este tema. O assunto permanece proibido, até ressurgir na análise do menino. O que a mãe do menino não esperava é que essa história não contada estaria absolutamente entrelaçada aos sintomas do filho que, em sua última sessão de análise, depois de saber da história da mãe, me diz:  eu pensava que eu era adotado . É sobre o que esse lindo e rico percurso de análise tem a nos ensinar sobre o tema da origem que pretendo falar.