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Resumo

O APRÉS-COUP DO ABUSO SEXUAL INFANTIL

Autor: Diego Henrique Rodrigues

Graduado no curso de Psicologia, pela Universidade Federal de Minas Gerais (2006). Especialização em Temas Filosóficos pelo Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFMG (2007). Atualmente, é bolsista de apoio técnico (FAPEMIG) no Projeto CAVAS da UFMG.

Os abusos sexuais lideram o ranking de agressões contra crianças. De acordo com Fuks (1998), uma maior abertura para as questões sociais e uma freqüente inserção institucional, levaram a psicanálise a enfrentar variados desafios associados à gravidade dos problemas, à magnitude da demanda e a uma maior complexidade das intervenções. O abuso sexual infantil compreende fenômenos extremamente diversificados e que influenciam sobremaneira a singularidade do tratamento dos pacientes. Delimitar o aspecto traumático do abuso sexual infantil dentro de um referencial teórico psicanalítico é o primeiro passo para se investigar suas implicações na direção do trabalho analítico.

A prática clínica do Projeto CAVAS permitiu-nos observar que a maioria dos pacientes chega para o atendimento transcorrido vários meses desde o abuso e depois de terem percorrido todo o processo que envolve a denúncia. Os pacientes demonstram sentir mais vergonha disso que da violência sofrida. Daí surgiu-nos a hipótese de que a revelação do abuso funciona como o segundo tempo do trauma, o do a posteriori, ressignificando a experiência como sexual e fora da lei.  A atribuição singular traumática de um evento vincula-se a atribuição que o social faz dele. (UCHITEL, 2001, p. 36). Além disso, CROMBERG (2004) nos lembra que esses atendimentos tendem a durar pouco, porque a demanda externa, geralmente, não se torna pessoal.

Discutido cada vez mais pela sociedade, o abuso sexual infantil ainda é um campo de pesquisa clínica pouco teorizado. Pesquisar o conceito de trauma pode fornecer uma chave que amplie as possibilidades de que o analista faça sua parte, não se constituindo como mais um obstáculo para um trabalho difícil por si próprio. Partindo das principais referências ao trauma na obra freudiana, iremos analisar as especificidades da clínica da criança abusada sexualmente, e que tem estado presente nas reflexões teóricas de autores como Lúcia Barbero Fuks, Myriam Uchitel e Renata Udler Cromberg, que enfatizam o potencial desorganizador do abuso em sua confluência com o plano fantasmático que dinamiza o aparelho psíquico.