Trabalhos
 

 

Resumo

A CENA PRIMÁRIA COMO FANTASIA CONSTITUINTE E COMO REALIDADE TRAUMÁTICA

Autores:

Eugênio Canesin Dal Molin (Centro de Referência Especializado no Atendimento a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência Londrina/PR)
Psicólogo clínico e do Centro de Referência Especializado no Atendimento a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência  Londrina/PR. Aluno dos cursos de especialização em Teoria Psicanalítica/PUC-SP, Psicoterapia Psicanalítica/USP e Transtornos do Desenvolvimento na Infância e Adolescência/Centro Lydia Coriat.

Isabella Silva Borghesi (Clínica de Fisiatria e Reabilitação de Londrina)
Psicóloga clínica e da Clínica de Fisiatria e Reabilitação de Londrina. Aluna dos cursos de especialização em Gestão Pública em Saúde/INSEP e Transtornos do Desenvolvimento na Infância e Adolescência/Centro Lydia Coriat.

Max Graf, o pai do pequeno Hans, escreve preocupado a Freud que seu filho está com medo de ser mordido por um cavalo na rua. Ele liga esse medo a um outro: Hans estaria de alguma forma assustado por um grande pênis. Imaginando uma cena real que fundamentaria o medo do filho, pergunta: Será que ele viu um exibicionista em algum lugar? Freud prontamente comunica ao leitor que não acompanhará o pai em sua ansiedade ou em suas tentativas precipitadas de explicar o medo de Hans. A situação só poderia ser entendida num momento posterior, depois de recebidas impressões suficientes. Ele dirá que, por hora, o julgamento deve ser suspenso e uma atenção imparcial dada a tudo o que puder ser observado. Mais a frente no texto, na discussão do caso, Freud escreverá que, embora suspeitasse que sim, não pode confirmar através de Max Graf que Hans em algum momento presenciou a relação sexual entre seus pais. As duas suspeitas – a do pai e a de Freud – giram em torno do mesmo tema: o que Hans poderia ter visto que desencadeou sua angústia? O presente texto procura discutir as possíveis diferenças do impacto na criança da fantasia da cena primária, de sua observação real, e da participação no ato sexual com um dos genitores. Para tanto, serão apresentados brevemente dois recortes clínicos: um em que a criança presenciou o ato sexual dos pais e/ou em filmes pornográficos; e outro em que um dos genitores abusou sexualmente da filha. Dado o fácil acesso das crianças a material pornográfico e ao grande número de situações de violência sexual identificadas atualmente, é importante que na análise de crianças as articulações entre o real e a fantasia sejam bem compreendidas; de forma que o que pode ser patogênico, nas fantasias constituintes do sujeito e na realidade traumática, sejam trabalhados terapeuticamente.