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Resumo

PENSANDO A ARTICULAÇÃO ENTRE OS TEMPOS PRÉ-EDÍPICO E EDÍPICO

Autora: Lia Lima Telles Rudge

Psicanalista pelo Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae, membro deste mesmo Departamento, psicóloga (IPUSP).

Uma das questões que mais me inquietam na clínica refere-se à articulação entre os chamados tempos pré-edípico e edípico. Existe um tempo pré-edípico ou seria melhor chamá-lo de Édipo precoce ou de primeiro tempo de Édipo? No presente trabalho busco avançar nestas questões a partir da leitura de um caso clínico de um menino de seis anos que foi encaminhado para análise pela escola, de onde partem os seguintes enunciados a seu respeito:  Ele é um menino muito esperto e divertido, mas movimenta-se sem parar, é abrutalhado ,  Às vezes irrita os colegas, quebra objetos deles e chora ,  Você conhece um hiperativo? Ele é cem vezes isto . Neste caso me deparei com um aparente paradoxo: a coexistência de falhas importantes na constituição subjetiva e, ao mesmo tempo, uma riqueza na sua possibilidade de brincar, associar; enfim, simbolizar e estabelecer laço na situação de análise.

A mãe conta que ela e seu marido estavam muito despreparados para o nascimento deste filho. No que consiste o seu despreparo? Curiosamente ao reler este trabalho produzi o seguinte ato falho: li desamparo ao invés de despreparo, decidi não desprezá-lo. A mãe explica:  quando ele nasceu, os presentes de casamento ainda estavam embrulhados . Em análise este menino repete a seguinte cena: gosta de me surpreender com seus movimentos. Em diversos jogos introduz um personagem que chamei de bebê-bola, que é arremessado, caindo na cabeça daqueles que estão ao seu redor, surpreendendo-os, machucando-os. Este menino se diverte muito com esta bola que dificilmente consegue ser agarrada e devolvida.

Nas conversas com a coordenação da escola e com os pais verifico que a angústia sempre fica do lado do Outro e que é este ponto que precisa ser trabalhado em transferência, para que a angústia possa passar para o lado dele e para que ele possa ter uma mudança em sua posição. Penso que foi justamente este trabalho que possibilitou que novos significantes começassem a emergir na cena analítica, surpreendentemente a partir da diretora da escola que recupera a história dessa família, a história dos avós maternos. A figura paterna começa a ocupar algum lugar mais diferenciado através deste avô. Desse modo, as questões sobre o nascimento deste menino se desdobram em perguntas sobre a origem de sua mãe. Ela é convocada a falar de assuntos que permaneceram em segredos por muitos anos e que ela havia mencionado rapidamente nas primeiras sessões, mas que eu não conseguira escutar.

Nesse processo as questões mais primitivas deste caso começam a se entrelaçar às questões edípicas.