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Resumo
CLÍNICA COM CRIANÇAS: DE QUEM É A ANGÚSTIA?
Autora: Maisa Aurora Marcos
Psicóloga, atua em clínica, especializações em Teoria psicanalítica pela
PUC/SP e em Psicanálise com crianças pela Fazenda Freudiana de Goiânia. Está
no grupo de Formação permanente em psicanálise pelo Instituto Sedes
Sapientiae (SP) em Goiânia desde maio de 2003.
Trata-se de um menino de 6 anos que há dois anos chorava antes de ir à escola e
só parava uns quinze minutos depois que chegava à escola. Em casa dizia que não
queria ir para a escola e chegou a fazer as seguintes perguntas: O senhor vai
me buscar na escola? E se o senhor morrer? O senhor não é meu pai? O senhor não
é da minha mãe? . Na escola, enquanto chorava, pedia para ir para casa para
ficar com sua mãe. Seus pais ficavam angustiados com essa situação bem como a
escola, representada pela coordenadora, que, após esgotar seus métodos
pedagógicos, o encaminha a um psicanalista. Fiquei perguntando-me de quem é a
angústia. Na tentativa de responder fui buscar subsídios em Freud e em outros
autores da psicanálise. Entendo que a angústia de Vinícius está relacionada à
vivência do complexo de Édipo. O relato dos pais fêz-me pensar em um certo
distanciamento do casal, em uma relação mãe-filho pouco interditada pelo pai e
na mãe tendo o filho como objeto de investimento narcísico. O choro de Vinícius
também mostrava o sofrimento pela separação. A angústia dos pais evidenciava
que esse sofrimento não podia ser vivido pela criança. É como se Vinícius não
pudesse sentir falta (angústia = falta da falta). Penso que os pais, devido às
suas histórias familiares, estavam tendo dificuldade de educar o filho, de
promover a separação entre eles e promover a interdição do incesto, atitudes
paternas necessárias para que a criança atravessasse a crise edipiana. De
acordo com Freud, no texto Inibições, sintomas e ansiedade a angústia de
Vinícius seria um sinal afetivo de perigo, perigo da castração: seria uma
reação a uma perda, a uma separação do objeto amado. De acordo com a
Conferência 25 de Freud o choro de Vinícius seria o transbordamento de libido
diante da situação de privação do objeto amado. Às sessões, a angústia de
Vinícius apareceu nas brincadeiras e ele pôde vivenciar, na fantasia, seu
conflito edípico. Através de encenações de perdas e separações, elaborou, na
transferência, a separação com a mãe e o seu choro diminuiu até desaparecer. A
angústia se fez presente também em mim, na função de analista, e foi o que me
mobilizou a pensar nesse caso. Podemos, portanto, pensar que, na clínica com
crianças, a angústia se faz presente não só na criança, como nos pais, nas
instituições envolvidas e naqueles que se propõem a tratá-la.
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