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Resumo
REFLETINDO SOBRE A SUBJETIVIDADE: OS OLHARES DE WINNICOTT E LACAN
PARA A RELAÇÃO PRIMORDIAL
Autora: Marcela Carolina Schild Vieira
Atualmente mestranda em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo e
bolsista pela CAPES. Graduada em Psicologia pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie (2005). Com especialização na área clínica pela Associação Lugar de
Vida/ IPUSP e pelo Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp (2007).
Experiência na área de clínica com crianças, adolescentes e adultos.
A proposta desse estudo parte da reflexão acerca dos pressupostos que
organizam a concepção de subjetividade no pensamento psicanalítico, mais
especificamente a partir de Winnicott e Lacan. Pretende-se mostrar como a
partir do modo pelo qual se entende a constituição subjetiva, um modelo teórico
referente ao entendimento do que são o bebê, a relação primordial, o papel
integrador do outro, a cultura e, por fim, as estratégias clínicas, se
constituem. A escolha desses autores - Winnicott e Lacan -, a princípio tão
díspares, baseia-se no percurso que ambos dedicaram ao tema da constituição
subjetiva, e na aposta de que, por meio dessa interlocução, possam emergir
giros teóricos significativos.
As indagações quanto ao que há de tão fundamental para o infans -
tempo da criança em constituição biologicamente imatura - na ligação com o
outro, traz à tona o aspecto de dependência absoluta experimentada nas primeiras
etapas da vida. Dessa experiência singular de vivência e de sobrevivência
garantida pelo laço com um semelhante é que a relação primordial promove uma
marca.
Diante da incompletude orgânica nos primeiros anos de vida e do questionamento
acerca da constituição subjetiva, Lacan postulou uma alternativa para o
entendimento acerca da formação da função do eu em decorrência de uma
série de relações imaginárias fundamentais, nomeando-a de fase do espelho.
Importante ressaltar a ênfase dada à função imaginária nessa fase, devendo
contar necessariamente com a presença do outro para que a metamorfose das
relações do indivíduo com seu semelhante ocorra.
Winnicott inspira-se nas formulações de Lacan para relacionar a metáfora do
espelho ao rosto da mãe, introduzindo um modo distinto de conceber o papel
especular materno, pelo destaque dado à dinâmica relacional. Em sua obra há uma
radicalização da noção de continuidade do ser, inspirada na idéia de
constituição da subjetividade através do desenvolvimento emocional - da
dependência absoluta do ambiente à dependência relativa e, finalmente, à
tendência à independência. A noção de independência como tendência vem
explicitar o que não pode nunca se emancipar totalmente; não há uma realização
absoluta da independência, pelo fato de a condição humana ser caracterizada
pela ação recíproca entre união e separação (Winnicott, 1975).
A partir das articulações tecidas entre os modelos concebidos acerca da
constituição subjetiva será feito um recorte para pensar o lugar do outro
primordial. Paralelamente, serão destacadas algumas questões referentes às
concepções de manejo clínico segundo Winnicott e Lacan, na qual cada uma das
concepções teórico-clínicas apresentadas ganha consistência, afastando-nos da
tendência, muitas vezes esterilizante, à filiação exclusiva a determinado autor
ou escola.
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