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Resumo

AS NOVAS PSICOPATOLOGIAS DA INFÂNCIA NA CONTEMPORANEIDADE: QUEBRAS DE SETTING E MATERNAGEM COMO ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS

Autores:

Maria Galrão Rios
Psicóloga. Mestre e Doutoranda em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo, membro do  Laboratório Casal e Família: clínica e estudos psicossociais do Departamento de Psicologia Clínica do IPUSP.

Isabel Cristina Gomes
Livre-Docente e Professora Associada junto ao Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de São Paulo, coordenadora do  Laboratório Casal e Família: clínica e estudos psicossociais do Departamento de Psicologia Clínica do IPUSP.

Elisa Amaral - Estagiária da Graduação do IPUSP.

A contemporaneidade vem se caracterizando pelo advento e aumento de novas formas de subjetividades e de psicopatologias, marcadamente pelas chamadas patologias do vazio e da falta de sentido, cuja gênese associa-se a falhas em estágios primitivos do desenvolvimento. A Psicanálise, que na época de Freud lidava com as questões decorrentes da neurose, atualmente vê-se às voltas com novos desafios e possibilidades. Mais especificamente em relação à Psicanálise de crianças percebe-se que, cada vez mais, o uso da maternagem como estratégia terapêutica têm-se mostrado necessária, assim como algumas alterações no que diz respeito ao setting terapêutico. A partir de um referencial winnicottiano, o presente trabalho tem como objetivo discutir acerca de tais transformações segundo um relato clínico, que se insere em um amplo projeto de atendimento a crianças, casais e famílias, conduzido há mais de dez anos na clínica-escola do IPUSP. Neste caso, o atendimento em psicoterapia psicanalítica de um menino de 9 anos, com queixas de agressividade e insucesso escolar , com duração de sete meses e freqüência de duas vezes por semana, marcou-se pela importância da maternagem exercida pela terapeuta, em um contexto de incapacidade da mãe para fazê-lo de uma forma suficientemente adequada. Temas como, a permanência da terapeuta frente às seguidas faltas do paciente, decorrentes de dificuldades dos pais em garantir a presença do filho nas sessões e, a continência dessa mesma terapeuta às angustias da mãe, mostraram-se de fundamental importância no tratamento, gerando, inclusive, a necessidade de adaptações no setting. Como exemplo disso, discute-se a importância das conversas por telefone entre o paciente e a terapeuta. Nesse contexto, realizou-se, simultaneamente, um atendimento aos pais empreendido por outra estagiária, na tentativa de proporcionar uma ajuda efetiva à mãe no sentido desta poder desempenhar minimamente a contento suas funções maternas; assim como o desenvolvimento de um espaço de holding a partir do pai, para que o casal pudesse conter mais efetivamente as questões e dificuldades apresentadas pela criança, exercendo a parentalidade de forma mais segura e promovendo um ambiente familiar mais saudável a todos. Considera-se, assim, a importância de um contínuo re-pensar da prática psicanalítica, inserindo e adaptando estratégias de intervenção, novas ou já conhecidas, que se fazem cada vez mais necessárias na clínica com pacientes infantis em nossos dias.