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Resumo


O QUE HÁ DE ESTRANHO NA DEVOLUÇÃO DAS CRIANÇAS ADOTADAS?

Autora: Maria Luiza de Assis Moura Ghirardi

Psicanalista, Mestre pelo Instituto de Psicologia da USP-SP, Co-coordenadora do Grupo Acesso – Estudos, Intervenção e Pesquisa da Clínica Psicológica do Instituto Sedes Sapientiae - SP, Membro Efetivo do Departamento de Formação em Psicanálise, Docente e Supervisora do Curso de Psicossomática Psicanalítica do mesmo Instituto.

Parte da Dissertação de Mestrado da autora, este estudo tece inicialmente uma analogia entre a condição do estrangeiro e a condição da criança adotiva. A conceituação do "estranho" (Unheimliche), formulada por Freud em 1919 é utilizada para a compreensão de algumas das motivações subjetivas apresentadas por pais adotivos para a devolução do filho. Toma como hipótese que nas situações de devolução da criança adotiva os pais experimentam dificuldades para inseri-la imaginariamente na condição de filho, ficando reservado a ela um lugar de exterioridade. Conflitos experimentados com a alteridade da origem biológica ampliam e intensificam as fantasias de apropriação indevida da criança – as fantasias de roubo – que, muito amiúde encontradas no contexto da adoção, são, paradoxalmente, contraparte da experiência psíquica relacionada com a devolução. Nessa situação a criança passa a ser vista como expressão de inquietante estranheza (Unheimliche). Quando isso ocorre, ela pode ficar colocada como representante daqueles aspectos psíquicos dos pais que são experimentados como ameaçadores, e é sua presença que se torna perigosa.