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Resumo
CONSIDERAÇÕES ACERCA DA SOBREDETERMINAÇÃO DO SINTOMA FÓBICO NO CASO
HANS
Autora: Maria Nadeje Pereira Barbosa (CNPq)
Psicóloga. Mestrado em Teoria Psicanalítica pela Universidade Complutense de
Madrid, Doutorado em Psicologia pela Universidade Complutense de Madrid,
Recém-Doutorado pela Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto).
O presente trabalho trata do fenômeno da sobredeterminação do sintoma fóbico, tomando como referência o texto Análise da fobia de um menino de cinco anos,
de S. Freud.
Efetuar a leitura de um texto a partir da perspectiva da sobredeterminação do
sintoma fóbico, supõe situar no contexto dos descobrimentos de Freud em um
momento temporal específico, caracterizado pela confirmação das hipóteses
freudianas sobre a gênese e a evolução da sexualidade infantil. Busca-se
refletir sobre a sobredeterminação do sintoma fóbico de Hans a partir de uma
multiplicidade de vias de associação que se entrecruzam, seja por semelhança,
seja por contiguidade. O resultado é o deslocamento da significação do sintoma
sobre cada um dos protagonistas da novela familiar de Hans (pai, mãe e irmã),
inclusive o próprio Freud e a formação de um complexo sintomático ligado a
elementos mais ou menos inconscientes. Analisa-se detidamente os diversos
momentos de engendramento e consolidação do sintoma fóbico do menino, assim
como o seu vínculo com as figuras parentais. A pergunta contraditória sobre o
seu sexo, movida pelo temor à castração, expressa um dos avatares da
constituição do seu ser no que se refere ao desejo de saber o que ele
representa para o desejo do outro. Analisa-se o estabelecimento de teorias
sexuais infantis para dar conta do narcisismo fálico de Hans, em que o pênis
aparece como uma insígnia que lhe permite manter sua integridade corporal. A
relação entre transgressão e proibição não se limita à ternura incondicional de
Hans em relação à mãe, mas denota o caráter sobredeterminado do sintoma na medida em que desloca a significação do sintoma do cavalo da figura materna
à figura paterna. Revela-se que é a partir do encontro com Freud que Hans
estabelece uma série de associações sobre a sua fobia, perfilando-se os
elementos que confirmam a sobredeterminação do sintoma. O sintoma
fóbico ofereceria, assim, os sinais de cruzamento de diversas significações,
que desembocam no enigma do nascimento. Analisa-se a repercussão do nascimento
da irmã, Hanna, em Hans, como decisivo no seu processo de reconhecimento da
diferença entre os sexos na medida em que repercute a nível pulsional,
produzindo ciúmes. O que significa encontrar no seu sexo a marca da sua
identidade. Nesse sentido, são rastreadas as vicissitudes de Hans na busca de
sentido de uma problemática sexual, em particular a origem e o desenvolvimento
da pulsão de saber, os obstáculos que se interpõem no seu livre curso.
Finalmente, revela-se que entre os antigos recursos simbólicos disponíveis
nesse momento do seu desenvolvimento psíquico, Hans encontrará no brincar a
função curativa do seu padecimento.
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