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Resumo
O ANALISTA E O SEU FUROR CURANDIS NO AUTISMO
Autora: Patrícia Marinho Gramacho
Graduação em Psicologia pela Universidade Católica de Goiás (1989).
Atualmente é professora - supervisora de hospitalar da Universidade Católica de
Goiás e psicóloga da Associação de Combate ao Câncer em Goiás. Psicóloga
Clínica e Hospitalar. Tem experiência na área de Psicologia Infantil,
especialista em Psicologia Hospitalar, formação em Psicanálise com ênfase no
desenvolvimento da criança, atuando principalmente nos seguintes temas:
psicanálise infantil, criança hospitalizada, luto, autismo, histórias infantis,
óbito infantil e oncologia. Membro do Instituto Sedes Sapientiae.
A visão de uma criança autista aparentemente perdida em sua inacessibilidade
provavelmente mobiliza qualquer analista enquanto pesquisador da natureza
humana. Diagnosticar para pais aflitos torna-se ainda mais difícil. Como dizer
sobre algo tão inconsistente, mas tão magnetizante para toda a ciência?.Como
não dizer que este desconhecimento não move no analista um furor curandis na
busca de um contato que mesmo que apenas de relance, já seria para estes pais
um caminho da cura? Um breve olhar aparentemente conectado, uma sílaba meio que
sonhada de sentido. O que dizer desta nossa sede de contato diante do
nada?Como acolher uma mãe ansiosa por ouvir a palavra mamãe dirigida a ela e
não ao espaço vazio?
Pretende-se com este trabalho desenvolver uma explanação teórica sobre o
desenvolvimento infantil compreendendo que precisamente o que se desenvolve são
as funções e não o sujeito, pois é na parcialidade própria da pulsão que o
objeto adquire um contorno que o define, partindo-se, portanto sempre de
fragmentos. É nesta parcialidade que surgem os representantes específicos que
vão se organizando como sistema: o motor, o perceptivo, o fonatório, os
hábitos, a adaptação (Jerusalinsky, 1988).
Segal em seu pós-escrito (1979) sobre a formação de símbolos, citando Bion
ressalta a importância de se levar em consideração a relação particular entre a
parte projetada e o objeto para dentro do qual se projeta, ou seja, o
continente e o contido. Para isto ela usa o exemplo da fala, lembrando que os
sons têm que ser apreendidos pelo ambiente para se converterem em linguagem,
assim como as palavras e frases.
Tentando compreender esta relação continente e contido no processo de autismo e
levando-se em consideração este pensamento concreto típico das fases iniciais
de desenvolvimento, desenvolver-se-á articulações com um caso clínico de uma
criança 2 anos e 11 meses, a quem chamaremos de Iara*,
que não falava, com o diagnóstico institucional de autismo e toda a minha
dificuldade enquanto analista em lidar com a relação pais, família e criança e
principalmente de acreditar na possibilidade de interferir nesta
impermeabilidade biológica ao significante, própria do autismo.
* Nome fictício que nos remete ao nome da grande sereia das lendas brasileiras, a mãe d água iara, associação feita pelo fato desta criança responder bem ao contato com música e água.
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