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Resumo
EXISTÊNCIA ESTÉTICO CRIATIVA DA CRIANÇA NO PENSAMENTO DE NIETZSCHE E
DE WINNICOTT
Autores:
Ramon Souza
Mestre em psicologia (Unimarco), Doutorando em psicologia clínica pelo IPUSP
(bolsista Fapesp)
Daniel Kupermann
Psicanalista. Professor Doutor do Departamento de Psicologia Clínica do
IPUSP
Este trabalho propõe uma reflexão comparativa acerca do lugar ocupado pela figura
da criança nas obras de Nietzsche e de Winnicott, o de personificação de uma
existência estético-criativa plena de si. Ambos os autores atribuem à criança o
poder da criação, através dos atos espontâneos do brincar e do jogo infantil.
Nas palavras de Nietzsche, a maturidade do homem significa reaver a seriedade
que se tinha quando criança ao brincar (NIETZSCHE, 1992, aforismo 24, p.71). É
acometido por tal seriedade que Zaratustra brinca, ri e ironiza as chamadas
verdades, incluindo a filosófica. Também Winnicott, ciente de tamanha
seriedade, considera o brincar e os jogos de ilusão-desilusão entre a mãe e o
bebê como sendo necessários à apreensão da própria realidade. A vivência
potencialmente criadora da destrutividade infantil também pertence ao pensamento
desses autores (destrutividade considerada, por vezes, ingênua e espontânea).
Enquanto Winnicott destaca o papel da agressividade para a possibilidade do
uso criativo do objeto pela criança, Nietzsche se utiliza da metáfora do leão
para ilustrar a luta contra os tirânicos valores tradicionais, que promove a
abertura para a criação de novos valores baseados na afirmação de si da
criança. Afirmação de si que remete a um estado de onipotência expandida (ou
vontade de potência) no mundo, cuja experimentação criativa, segundo a teoria
winnicottiana, se inicia com a ilusão de onipotência proporcionada pela relação
mãe-bebê. Assim, o bebê torna-se preparado para encontrar um mundo de objetos
e idéias, e segundo seu crescimento nesse aspecto, a mãe vai lhe apresentando o
mundo (WINNICOTT, 1989, p.38-39). Por fim, destaca-se a noção winnicottiana de ruthless (impiedoso), juntamente com a crítica nietzscheana da
compaixão.
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