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Resumo

SABINA SPIELREIN, PIONEIRA DA PSICANÁLISE COM CRIANÇAS

Autora: Renata Udler Cromberg

Psicanalista. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, doutora pelo IPUSP, professora do curso de psicopatologia e Saude Pública da Faculdade de Saúde Pública, formada em psicologia e filosofia pela USP. Autora de Paranóia e Cena Incestuosa pela coleção Clínica Psicanalítica da Ed. Casa do Psicólogo


Aproveitando o encontro entre psicanalistas da criança para discutir os Cem anos da psicanálise com Crianças, gostaria de por em discussão uma verdade evidenciada em minha pesquisa: Sabina Spielrein não apenas foi a primeira mulher a escrever uma tese de doutorado com um tema psicanalítico e a utilizar o termo esquizofrenia num trabalho escrito, a primeira que teve a proeminência suficiente para ser publicada na principal revista de psicanálise de então, o Jahrbuch, mas foi a primeira psicanalista de crianças na história da psicanálise e a primeira a escrever artigos sobre a psique infantil baseados em observações e tratamentos de crianças, depois das observações de Freud sobre o pequeno Hans.

Na visão oficial da psicanálise, a filha de Freud, Anna Freud, ainda figura como a fundadora da psicanálise de crianças, Melanie Klein vem em seguida. Mas a primeira contribuição sobre análise de crianças na história psicanalítica foi de Spielrein, Contribuições ao conhecimento da psique infantil, publicado no terceiro número do Zentralblatt, em 1912. Apenas dez anos depois apareceu a primeira comunicação de Anna Freud, que se tornou membro da Sociedade Psicanalítica de Viena em 13 de junho de 1922, apenas uma semana antes de Lou Andreas-Salomé. E sete anos depois da publicação, houve a primeira comunicação de Klein. Nesse intervalo de tempo, foram publicados vinte e cinco artigos de Spielrein, dez deles sobre temas relacionados à análise de criança. Ao emigrar de volta à Rússia, Sabina Spielrein desaparece como personagem da história da psicanálise, apesar de ter sido talvez a coisa mais importante que fez, no outono de 1923, ajudando a psicologia russa a entrar no século XX, especialmente por sua participação no Jardim de Infância psicanalítico, primeira experiência de junção da psicanálise e da educação e sua cátedra de pedologia na Universidade de Moscou onde exerceu a transmissão da psicanálise com crianças.

Hermine Von Hug-Hellmuth, tida como a pioneira não oficial da psicanálise de crianças, tornou-se membro da Sociedade Psicanalítica de Viena apenas em 1913, e foi-lhe confiada por Freud a seção dedicada à psicanálise de crianças na revista Imago. Fascinados por essa doutora que era de uma ortodoxia sem falhas, Freud e seus fiéis não viram que seus artigos provinham de uma análise de seu sobrinho, na qual aplicava as teses do mestre. Seu livro mais famoso, o diário de uma adolescente de 11 a 14 anos, de 1919, também se revelou uma fraude, apesar de seu sucesso e de um prefácio elogioso de Freud. Por todas estas situações embaraçosas, ela também foi banida por muito tempo da história da psicanálise.