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Resumo
CHEZ DIANA: UM NOME PRÓPRIO PARA UMA CASA
Autora: Telênia Maria de Senna Hill
Psicóloga, aluna e membro do Departamento Formação em Psicanálise.
Neste trabalho apresento o caso de uma menina a que atendi no curso de
Especialização em Saúde Mental da Infância e Adolescência, durante os anos de
2002 e 2003. Diana foi trazida para atendimento psicoterápico quando ainda não
contava três anos. As queixas de sua mãe a seu respeito eram de muita
agressividade consigo mesmo e com os outros, sono muito agitado, masturbação
excessiva, medos aparentemente imotivados (do sabonete, da pasta de dente,
etc.), demonstrações exageradas de raiva quando contrariada e uso recorrente de
uma linguagem própria. Esta linguagem própria, a que a mãe fez referência,
apresentava-se na clínica como palavras inventadas pela criança em resposta às
perguntas que lhe fazíamos buscando o sentido de suas produções.
Vimo-nos diante da dificuldade, muitas vezes, de estabelecermos uma comunicação
e um discurso de sentidos partilhados. Optamos, então, por tomar como objeto de
nosso estudo as formas de representação da criança, através das quais
pretendemos estudar o processo de constituição do Eu. A outra questão que nos
ocupava versava sobre a contribuição que a psicanálise teria a oferecer no
tratamento de crianças tão pequenas, cujos pais buscam auxílio no sentido de
aliviar os sofrimentos e desconfortos seus e de seus filhos. Com estas questões
em mente, escolhemos tomar como base principal para a análise e discussão do
caso em questão os trabalhos e reflexões de dois autores que se dedicaram ao
estudo do desenvolvimento emocional primitivo: Piera Aulagnier e D. W.
Winnicott.
Dentre os vários aspectos do percurso da constituição de Diana, enquanto
sujeito, o que demonstrava sua relação com a linguagem me cativou de maneira
particular. A palavra que antecede o sujeito, o cria ao modo do discurso de seu
meio, mas vai ser o instrumento de que ele se utilizará para criar o seu
próprio mundo, recriando o mundo herdado. O bebê descobre os sons que pode
emitir, escuta-os, repete-os, e, aos pouco, modifica sua expressão. Diana
brincava com o som das palavras, fosse um looonge pronunciado com graça, ou
um não arredondado e prolongado, o som do galope de um cavalo, ou o barulho
do vento feito entre os dentes. Além de brincar com o som das palavras
conhecidas, ela inventava outras. Assim fazendo, não só brincava com os sons
que criava, mas reservava um espaço para si, buscando reagir à invasão,
exercitando a separação e instaurando algo de sua diferença.
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