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Resumo
A MÃE A MULHER E O SINTOMA DA CRIANÇA
Autora: Teresinha Costa
Psicanalista, Mestre em Pesquisa e Clínica em Psicanálise pelo Programa de
Pós-graduação em Psicanálise do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto
de Psicologia da Uerj, membro do Corpo Freudiano Escola de Psicanálise Seção
Rio de Janeiro, onde coordena o departamento de ensino. É coordenadora do
Serviço de Psicologia Aplicada SPA -, das Faculdades Integradas Maria Thereza
(Famath), em Niterói, onde também é professora, supervisora do estágio clínico
e orientadora de pesquisa sobre a clinica psicanalítica com crianças (Pibic).
Dentre outros, escreveu os artigos: Entre supervisão e controle: a psicanálise
no SPA da universidade, com Marco Antonio Coutinho Jorge, in Sonia Altoé e
Márcia Mello de Lima (orgs), Psicanálise, clínica e instituição, (Rios
Ambiciosos, 2005); A pirâmide das heresias: a ética na psicanálise com
crianças , in Marco Antonio Coutinho Jorge (org), Lacan e a
formação do psicanalista (Contracapa, 2006) e A criança e a ética
psicanalítica, Revista Marraio nº 11 (Rio Ambiciosos/FCCL, 2006). É
autora do livro Psicanálise com crianças (Rio de Janeiro, Jorge Zahar,
2008, 2ª ed.) e do livro Édipo, (Rio de Janeiro, Jorge Zahar, no
prelo).
Antes mesmo de nascer, a criança está mergulhada em linguagem. O sujeito
assujeitado à fala, o sujeito do inconsciente, nasce no campo do Outro. Com o
conceito de Outro, Lacan quer enfatizar que o sujeito não existe sozinho, ele é
sempre referido a um Outro, representado primeiramente pela mãe ou substitutos.
O grito do recém-nascido só se tornará chamamento pela resposta da voz do
Outro, em que se inscreve o seu desejo. O bebê, assim, entra na linguagem. Pela
palavra do Outro o bebê recebe suas mensagens de volta, o que implica que é
reconhecido como sujeito de desejo.
É fundamental que o Outro possa escutar o choro do infante como demanda de
algo. Estar surdo a isto é deixá-lo entregue à pulsão de morte. É a fantasia do
Outro parental que faz com que este ouça o que ainda não foi dito. A mãe
realiza esta função com sua sexualidade: com ela o corpo do bebê será
erogeneizado, aplacando a pulsão de morte. Assim, não é possível dissociar
criança de sexualidade feminina.
Ao nascer, a criança se assujeita, se aliena aos
significantes do Outro, encarnado pela mãe não é sem razão que se utiliza a
expressão língua materna -, para mais tarde se separar, destituí-la
desse lugar tão poderoso. Só assim, após a separação, a criança poderá
tornar-se sujeito na plena acepção do termo. Neste processo de alienação e
separação, é a Lei do Pai que deverá vir em seu auxílio para frear este
poder absoluto do Outro materno.
Lacan introduz a divergência entre ser mãe e ser mulher. Para ele, a mulher, na
medida em que seu desejo se dirija ao homem, é mais a ser ou receber esse falo
que a mulher aspira: a sê-lo, através do amor que faliciza, e a recebê-lo, por
intermédio do órgão com que ela goza, mas nos dois casos, ao preço de não o
ter. Há, portanto uma divisão entre a mulher e a mãe. Só a mulher é capaz de
barrar, de dividir a mãe.
O lugar ocupado pelo filho no desejo da mãe é também o lugar do objeto a, causa
de desejo. Uma das novidades trazidas por Lacan, na clínica da psicanálise com
crianças, é colocar a criança não só em relação ao objeto a da
fantasia da mãe, mas colocá-la também em relação ao sintoma do pai. Portanto,
cabe à criança encontrar uma saída para seu desejo, ou seja, interpretar o
desejo da mãe para ir ao encontro da mulher que existe mais além da mãe. Em
outras palavras, interpretar o desejo da mãe significa colocar uma questão
sobre algo da ordem da mulher na mãe.
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