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Trabalhos

Abusos curtidos? Reflexões sobre a sexualidade infantil e mídias sociais.

Mira Wajntal: Psicanalista, Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. Integrou equipes de implantação de Hospital-Dia Infantil e CAPS Infantil na PMSP por 14 anos. É autora do livro “Uma Clínica para a Construção do Corpo”, Via Lettera, SP, 2004. Organizadora do livro: “Clínica com Crianças: Enlaces e Desenlaces”, Ed. Casa do Psicólogo, SP, 2008. Prof. do Curso de Expansão Cultural (Sedes) “Autismo e Psicoses na Infância: Diagnóstico e projetos terapêuticos”. Atende em consultório adultos, crianças, bebês e famílias.

Eixo temático: sexualização da infância

Resumo

Aliado à “ditadura da criança” está o abuso das comunicações digitais que colaboram muito para o desalojamento dos familiares enquanto aquelem que introduzem e balizam a lei, quer seja da interdição, como dos valores éticos sociais. A criança se vê siderada pela escravidão das curtidas, criando uma “intimidade hiper exposta”, cujo único valor é o olhar anônimo da plateia digital.
O mundo adulto expõe cada vez mais a criança a um erotismo precoce, ao mesmo tempo em que, a mantém como aquela que pode decidir tudo em casa, somada à ilusão que nada lhe falta, uma vez que lhe são oferecidos muitos objetos reais para seu prazer e completude, levando-a a crer que seria este o verdadeiro valor da vida.
O mundo digital introduz como o novo e valoroso objeto “o curtir”. Ato anônimo que subverte os valores para a criança de forma radical. A transmissão cultural passa a circular nesta nova moeda. Uma moeda que se adquire sem trabalho ou elaboração, colocando a criança em um imediatismo, comprometendo, inclusive, sua relação com o tempo, com a noção de causa e consequência. Não há limites, a imagem de completude, alterna-se entre presença e volatilidade: ter ou não ter “curtidas” leva da completude à falta em segundos. Da felicidade à angústia. O que se precisa fazer para ter curtidas?
Parece que as inscrições simbólicas e seus representantes na tradição familiar estão cada vez mais desautorizadas pelo mundo instantâneo do digital. Sob este “novo mundo”, repleto de “nudes” e atos de mutilação, nós psicanalistas nos vemos desafiados a encontrar caminhos de elaboração com estas crianças.


Palavras-chave: sexualidade infantil e internet; violência; Psicanálise com crianças.