"Faça com que a I.A. faça seu trabalho. Esse é o primeiro passo, certamente. Se você não fizer isso, seu chefe o fará. A segunda etapa é aproveitar o tempo que você liberou e fazer um trabalho que a I.A. não pode fazer"
Seth Godin
Qual seria o trabalho que a Inteligência Artificial não pode fazer?
Temos observado a utilização dessa tecnologia revolucionária para diversos fins, como assistentes virtuais, análise de dados, reconhecimento de imagem (segurança), finanças, veículos autônomos, entretenimento, entre outros. Dessa forma, a rapidez das respostas faz com que possamos atingir um nível maior de eficiência.
Ao utilizarmos o ChatGPT (Generative Pretained Transformer) pela primeira vez, a sensação é de ter um cavalo selvagem nas mãos ao nos percebermos expostos às infinitas possibilidades, tornando-nos muito potentes a partir do próprio movimento. A questão parecia ser selar este cavalo e, de alguma maneira, guiá-lo para nosso próprio propósito. Possivelmente uma ferramenta, um percurso, não um destino final.
Analisando à luz da psicanálise, podemos considerar a ideia de espaço potencial de Winnicott, um espaço intermediário entre a realidade externa e a interna, onde a brincadeira, a criatividade e o desenvolvimento emocional podem ocorrer; um espaço de liberdade, onde o indivíduo pode explorar sua subjetividade.
Na psicossomática psicanalítica, a instância do pré-consciente serviria de amparo e construção de representações, que, de acordo com sua quantidade, disponibilidade e qualidade, constituiriam um sujeito bem mentalizado, como aponta Pierre Marty. A boa mentalização, através de suas potencialidades de descarga e elaboração, é um fator importante para o não adoecimento, uma vez que permite lidar com os estímulos e pressões da realidade externa.
Para tais construções emocionais complexas, precisamos de um ambiente que suporte e facilite o manejo das angústias do "não encontro", do espaço entre sentir e responder a esses sentimentos de maneira própria e criativa, possibilitando a sensação de existir por si mesmo.
Pensando na constituição do sujeito, o uso de inteligências artificiais como facilitador de tarefas diárias e solução de problemas pode caracterizar-se como uma nova forma de funcionamento mental ou o fato de trazer tudo tão pronto acaba por comprometer a construção das estruturas psíquicas, ocasionando falhas importantes no desenvolvimento emocional do sujeito?
Pensando em um mundo cada vez mais imediatista, performático e urgente, saberemos utilizar tamanha revolução de maneira saudável?
Dessa forma, convidamos nossos debatedores a pensar no impacto da I.A. nesse processo, já que a rapidez das respostas, a mecanização e a replicação de padrões seguem uma lógica pronta e quase perfeita.
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ano - Nº 6 - 2024publicação: 12-12-2024 |