Massa pensante – Sefi Strengerowski

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Na XVI Jornada de membros do Departamento Formação em Psicanálise, no dia 12/09, tive a oportunidade de apresentar meu trabalho sobre a Psicologia das massas de Hitler. A teoria foi baseada no texto de Freud Psicologia das massas, em que Freud explica o funcionamento de massas, os requisitos para que se formem e o que há por trás dessa formação.
Assim, Freud explica, trazendo conteúdo de Le Bon e Mc Dougall, que para em massas há sentimentos e pensamentos que só surgem nessa formação, mas que se faça a diferença entre massa e multidão. Multidão são muitas pessoas num lugar, um amontoado de gente. Para que se forme uma massa deve haver algo imprescindível: a construção de laços emocionais. Freud fala, também, sobre a hostilidade entre massas semelhantes ou totalmente diferentes, que sempre existe, pois em situação de massa, os sentimentos mais hostis podem aparecer.
Freud traz a figura do líder como essencial, pois a massa se identifica com ele ou com sua ideia que se torna um ideal do ego, de que a identificação com o líder é que faz com que os membros se identifiquem entre si e fala também de como pessoas em situação de massa entram num estado de fascinação e contágio como uma hipnose, pelo líder e, assim, sua capacidade de pensar é reduzida. E é aqui que eu queria chegar, na capacidade de pensar reduzida.
Ao final das apresentações da mesa de que participei, a comentadora Olivia Lucchini, com o seu comentário reflexivo sobre o meu trabalho, me fez um convite a refletir e pensar se, de fato, todas as massas teriam sua capacidade de pensar reduzida. Pensei sobre isso.
O que é pensar? O que é necessário para pensar? O que nos chama para pensar?
E pensei.
Para pensar é necessário a linguagem e a capacidade de simbolizar. Pensar é usar o intelecto para refletir, de tentar entender, de querer olhar para um determinado assunto e tirar conclusões sobre ele. Mas penso que deve haver um chamativo que nos convoque para pensar. Que chamativo seria esse?
Quando lemos, qualquer leitura, podemos concordar, discordar, podemos repensar ou manter o nosso pensamento sobre aquilo. Assim, para haver pensamento precisamos ter conteúdo gerado e publicado para se poder pensar sobre ele, como na Jornada de membros, em que membros, voluntariamente, nos trazem conteúdos  dos mais diversos para pensarmos juntos a Psicanálise.
Passei a olhar os membros do Departamento como uma massa. Uma massa que se identifica com a Psicanálise e, assim, se identifica entre si, falando em Psicanálise. Mas será que nossa capacidade de pensar é reduzida? Acredito que não. Mas acredito, também, que para podermos manter nossa capacidade reflexiva sobre a Psicanálise, precisamos de novos conteúdos, além de nossa grande base teórica dos grandes Freud, Melanie Klein, Lacan e muitos outros que pensaram e trouxeram à luz seus pensamentos.
O Jornal Acto Falho é um convite para o pensar, individualmente e coletivamente. Para pensarmos sobre o que lemos, sobre o que estudamos e podermos, assim, formar nossos próprios pensamentos e conclusões. Partindo do pressuposto que constituímos uma massa pensante, membros efetivos ou acadêmicos, sem dúvida nenhuma têm muito a contribuir com o que pensam. E é desse conteúdo que estamos precisando para dar vida ao departamento.

Tenho certeza que todos têm conteúdo para contribuir para que possamos refletir e pensar e repensar a Psicanálise. Se aproprie do que é seu e compartilhe conosco. Estamos sedentes por esses conteúdos.

Sefi Strengerowski

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