Vol 29 n.1 (2021)

Editorial

Setembro de 2021. Estamos há um ano e meio assolados pelas repercussões da pandemia mundial do Covid-19 e, no Brasil, há quase três anos sob um governo autoritário. Quinhentos e oitenta e quatro mil mortos e uma ameaça golpista a nos assombrar. Como essa conjuntura sombria interpela a psicanálise? O que, como psicanalistas, nos cabe nessa situação que escancara e amplifica a vivência traumática de nossa vulnerabilidade, o nosso desamparo fundamental?   Os fenômenos sociais e clínicos sobre os quais as autoras e autores desta edição se debruçam – opressão, racismo, violência, assujeitamento, crueldade,  ódio,  desinvestimento  mortífero  etc  –  dão  o  tom  das  angústias  que  as/os moveram a escrever. Não se trata, sabemos, de acontecimentos novos. A destrutividade não é um tema sobre o qual a psicanálise já não tenha trabalhado.  Há,  no  entanto,  algo  da  ordem  de  um  recrudescimento  que  é  importante interrogar.   O trabalho de escrita que a revista Boletim Formação em Psicanálise busca fomentar  procura  transformar  dor  em  sofrimento.  No  lugar  da  dor  dilacerante e indizível, narrativas simbólicas que tragam sentido às experiências, enlaçando-as  numa  dimensão  coletiva  de  reconhecimento.  Confiamos  que  pensar  criativamente  sobre  isso  que  nos  horroriza  –  e  que  nos  constitui  –,    transformando nossa dor em sofrimento, pode contribuir para o alargamento das experiências lastreadas pela ética. É aposta que seguimos fazendo.

Gisele Assuar e Luana Viscardi

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