Editorial
Setembro de 2021. Estamos há um ano e meio assolados pelas repercussões da pandemia mundial do Covid-19 e, no Brasil, há quase três anos sob um governo autoritário. Quinhentos e oitenta e quatro mil mortos e uma ameaça golpista a nos assombrar. Como essa conjuntura sombria interpela a psicanálise? O que, como psicanalistas, nos cabe nessa situação que escancara e amplifica a vivência traumática de nossa vulnerabilidade, o nosso desamparo fundamental? Os fenômenos sociais e clínicos sobre os quais as autoras e autores desta edição se debruçam – opressão, racismo, violência, assujeitamento, crueldade, ódio, desinvestimento mortífero etc – dão o tom das angústias que as/os moveram a escrever. Não se trata, sabemos, de acontecimentos novos. A destrutividade não é um tema sobre o qual a psicanálise já não tenha trabalhado. Há, no entanto, algo da ordem de um recrudescimento que é importante interrogar. O trabalho de escrita que a revista Boletim Formação em Psicanálise busca fomentar procura transformar dor em sofrimento. No lugar da dor dilacerante e indizível, narrativas simbólicas que tragam sentido às experiências, enlaçando-as numa dimensão coletiva de reconhecimento. Confiamos que pensar criativamente sobre isso que nos horroriza – e que nos constitui –, transformando nossa dor em sofrimento, pode contribuir para o alargamento das experiências lastreadas pela ética. É aposta que seguimos fazendo.
Gisele Assuar e Luana Viscardi
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