A Jornada deste ano marcou um momento de encontro e trocas em que se pode apreciar os modos diversos de composição de percursos da formação em psicanálise no Departamento Formação do Sedes. Um respiro na correria do quotidiano institucional, um lugar para compartilhar trajetos percorridos, rumos, pedras no caminho e panoramas atuais que se observam e se vivem numa clínica psicanalítica ancorada no tempo presente.
As generosas contribuições dos colegas e das colegas, mostraram percursos de investimento na teoria e na prática psicanalítica, em busca de uma formação que sustente a disposição de acolher as mazelas do humano, demasiado humano. Belezas e durezas nessas trajetórias foram compartilhadas num ambiente amoroso, em que se reconhecia o comum nas clínicas de cada um, ao mesmo tempo em que se observava o singular de cada gesto no ensaio deste ofício. Os relatos dos colegas ilustraram a delicadeza desse momento em que nos encontramos com outros possíveis. Os tropeços e as alegrias no lugar de uma clínica ainda equilibrista, errante. Gratidão e compromisso ético com a afirmação desse lugar de Formação que o Departamento oferece foram lembrados logo na abertura do encontro e, de certa maneira, deram o tom da Jornada ao referir o compromisso com o cuidado com esse lugar de Formação, que em meio a crises e continuidades mantém a força da própria reinvenção no tempo.
A Jornada é uma brecha que se abre na Instituição. Um dispositivo de abertura para a escuta e para a apreciação das trajetórias individuais, no panorama da Formação. Contar e ouvir contar os percalços e os encantos dessas trajetórias permite uma apreciação também estética, que nem sempre é evidente no quotidiano institucional; um lugar de acolhimento e de trocas necessário para a Formação.
O vídeo que acompanhou uma das apresentações da mesa final da Jornada, de certa maneira colocou em imagens a sensação que os participantes compartilhavam naquele momento e traduziu a qualidade das trocas que tiveram lugar na Jornada. O vídeo mostrava uma bailarina a dançar equilibrada na ponta de facas, sobre um piano. O esforço e a beleza daquela dança podem ser vistos como alusão aos embates que se apresentam para os que percorrem o caminho da Formação. Também a Formação propõe, de certa maneira, uma dança e a Jornada é um lugar em que se compartilham ritmos e coreografias de passos equilibristas em busca de uma clínica ética e esteticamente comprometida com o presente.
Encontrar os colegas num momento diverso daquele da sala semanal, em que estamos todos e todas preocupados com as leituras, os casos, as análises, enfim, no calor da formação, é um privilégio e uma alegria que se oferece a cada ano e que se enriquece com a participação de um grupo interessado em manter viva e forte a disposição psicanalítica.
Maria Isabel Ghirardi