Resumo
A importância das relações iniciais na constituição do psiquismo tem sido amplamente reconhecida pela psicanálise.
Referindo-se ao que chamou de “Sua majestade, o bebê”, um estado de onipotência infantil, contraponto de seu intenso desamparo de origem, Freud introduz uma nota de rodapé na qual coloca que “uma ficção como esta só é possível se se considera a existência de uma mãe”. Está marcada desde aí a importância da figura materna para ancorar o desenvolvimento infantil impedindo que seu bebê, ainda precariamente constituído, se veja precocemente imerso no desespero de seu desamparo.
A queixa de dificuldades alimentares em bebês e crianças pequenas tem sido descrita por autores que trabalham com crianças e famílias nesta faixa etária, de um modo geral estes autores apontam que tais dificuldades podem ser vistas como sintoma de determinadas configurações familiares caracterizadas como muito intrusivas em seus esforços para lidar com as crianças e que funcionariam como uma projeção forçada (invasiva) para dentro da criança dos sentimentos e ansiedades parentais. Sob tal perspectiva a recusa da alimentação poderia funcionar como uma espécie de defesa de “não entrada” criando um circuito patológico de comunicação.
O atendimento a famílias nestes casos pode atender a uma dupla necessidade: acolher aos pais a fim de, a partir da continência e compreensão, criar condições para que possam aprender a compreender as comunicações da criança e também ao nomear as formas da criança lidar com a ansiedade e dependência ajuda-la a tolerar seu desespero.
Este trabalho se propõe a discutir estas questões a partir do relato do atendimento de uma família que nos procura, indicada por seu pediatra, devido a dificuldades na alimentação desde problemas a introdução dos alimentos sólidos. Refletimos sobre o sentido desta recusa dentro da configuração familiar e sobre os efeitos do trabalho de intervenção precoce que, via continência e empatia metaforizante, possibilitam rupturas de campo que permitem a abertura para novos sentidos e desarmar as amarras que impedem que o fluxo do desenvolvimento se movimente.
Palavras-chave: consultas terapêuticas, intervenção precoce, relação pais- bebês e distúrbio alimentar.
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