31 de agosto e 1 de setembro de 2012
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Trabalhos

Possibilidades de análise em uma Instituição em situações de abuso

Christiane Sanches
Psicóloga, Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento, Especialista em Psicologia Hospitalar, Formação em Psicanálise da Criança pelo Sedes, Professora Universitária, Psicóloga Jurídica e Membro do Centro de Referência às Vítimas de Violência (CNRVV).

Resumo

O atendimento as crianças e adolescentes vítimas de violência e seus familiares tem sido uma preocupação de pesquisadores e de políticas públicas, com projetos governamentais e não governamentais, em virtude  do impacto  negativo para o desenvolvimento da criança e adolescente. Esse impacto, também é utilizado de forma perversa, mães em situações de conflitos judiciais inventam situações abusivas, com o intuito de afastar o genitor do convívio com a criança, situação denominada como alienação parental. Quando a situação abusiva ocorreu, algumas mães buscam documentos para legitimar a “verdade” em Instituições Especializadas, consideram que a criança será protegida com o afastamento do genitor que se relacionou com a filha de forma abusiva. Em geral, a preocupação inicial não é relacionada com o sofrimento emocional da criança, mas com o documento (laudo psicológico) que legitime o seu êxito no processo jurídico. Neste sentido, a transferência inicial é com o nome da Instituição e o seu papel na relação com o judiciário. Não se trata da falta de cuidado com a criança, mas ao  sofrimento por ter se sentido traída e incapaz de proteger sua filha. Neste sentido, surgiram algumas reflexões e questionamentos nos atendimentos realizados que motivaram esse estudo. Na relação transferencial a criança conseguirá estabelecer um vínculo de confiança com o analista? Pois, diante da expectativa materna, confiar no analista poderá despertar um sentimento de culpa insuportável.
Lembro-me do caso de Érica (nome fictício) que nos atendimentos perguntava se iria contar para o juiz os atendimentos e se o seu pai iria ser preso? O segredo vivido na relação abusiva era observado na transferência com o analista. Um atendimento em uma Instituição pode ser atravessado por questões objetivas, com o interesse inicial por um laudo, no entanto o papel do analista é com a verdade do paciente. O trabalho realizado neste atendimento com Érica possibilitou a abertura de um campo analítica para a subjetividade de sua história. Levou-se em consideração que as relações abusivas não se constituem de forma inusitada, mas se compõem ao longo da história e das relações construídas ao longo da sua constituição da trama familiar.


Palavras-chave: Instituição, transferência, abuso e psicanálise.