Carta a um jovem paciente
Daniele John |
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Resumo Uma analista escreve uma carta imaginária a seu paciente de 15 anos, em análise desde os 9, recontando a ele sua história e seu percurso de análise e testemunhando o que aprendeu com ele sobre transferência, em especial sobre uma transferência hostil de difícil manejo. Ao longo deste relato, algumas questões fundamentais sobre a transferência são levantadas e discutidas: como lidar com uma transferência que se apresenta essencialmente como negativa? Qual o limite entre uma intervenção analítica e educativa e em que medida esta fronteira sofre a influência de termos um adulto e uma criança na cena? Qual a diferença entre fazer uma intervenção na brincadeira e fora dela? Podemos pensar a repetição na transferência como operando nos moldes do Fort-Da, ou seja, como uma dinâmica na qual o sujeito pode ocupar a posição ativa em relação ao que sofreu passivamente? Este é um caso que confirma a importância do principal ensinamento de Freud sobre a transferência: o de que o que acontece ali não pode ser tomado pelo analista como dirigido a ele como pessoa, mas como repetição de um protótipo de relação que diz respeito a outros objetos. E se isso nos serve para, como dizia Freud, não nos gabarmos tão rapidamente dos nossos bons atributos quando o amor transferencial está em jogo, neste caso, lembrar disso foi fundamental para tolerar a intensidade do ódio que era endereçado à analista na transferência. O formato de carta pode ser interpretado como um mero recurso retórico, ou como uma tentativa de falar de dentro do próprio campo transferencial, embora com a garantia de que a carta em si, jamais chegará a seu destinatário, a não ser através dos efeitos que a escrita da clínica venha a ter sobre a continuidade da escuta do caso.
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