31 de agosto e 1 de setembro de 2012
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Trabalhos

Transferência e transicionalidade na clínica com bebês

Elisa Motta Iungano
Psicóloga, aluna do curso Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae, aprimoramento na Maternidade São Luiz, aprimoramento em psicossomática da criança, experiência em atendimentos de duplas de mães e bebês na Associação Pró-Hope, atuou com bebês em situações de acolhimento no Projeto Palavra de bebê, do Instituto Fazendo História.

Resumo

Atendimentos a bebês são geralmente realizados em conjunto com pais ou cuidadores. A presença física do bebê é o que possibilita o atendimento a ele. Dando vida aos relatos dos cuidadores, o bebê se mostra, atua, reage e exige reações dos adultos que o cercam. O bebê, quando presente, torna-se mais do que um discurso, e a relação com o cuidador-ambiente entra em foco. Á presença da figura materna é igualmente indispensável, visto neste período da vida a maternagem é parte indissociável do sujeito. Há que se pensar, então, que necessariamente lida-se com variadas transferências e contratransferências - com cada um dos cuidadores, além do bebê. Podemos retomar aqui o debate inaugural da psicanálise de crianças e questionar como é possível a transferência nessa fase tão inicial da constituição psíquica.

Há que se considerar, além da transferência com o bebê e com os cuidadores, também a transferência com a própria maternidade. Podemos falar aqui do terceiro, conforme Lacan, ou do campo transicional, seguindo Winnicott. De qualquer forma é possível afirmar que, entre uma mãe e seu bebê, existe algo que se constrói a partir da relação e não se limita a uma ou outra pessoa. Ao se tratar da relação entre mães e bebês, a transicionalidade é um ponto central, como também é na clínica psicanalítica. Atender, em análise, bebês com seus cuidadores significa estar em uma superposição de transicionalidades, o que torna a experiência sensível e delicada, em todos os sentidos. E este campo transicional, ao qual somos convidados a entrar, é o campo potencialmente terapêutico.

O bebê chega ao mundo absolutamente dependente do ambiente, mas impõe sua presença de forma muito marcante. Seu desamparo e encanto seduzem o cuidador a se encarregar dele, assim como nos convocam a olhar e interagir com ele. Seu contato com o mundo, feito através de uma barreira ainda muito permeável, é reproduzido na transferência, provocando intensidade semelhante na troca pulsional. Este tipo de intervenção ocorre no contexto de um momento crítico e privilegiado de transformação familiar, de revolução psíquica para todos os envolvidos. A emergência de conteúdos cristalizados, para os pais, acontece simultaneamente à tarefa de prestar apoio à constituição de uma nova subjetividade. Com a comunicação particular que há entre mãe e filho, o inconsciente materno se reflete no corpo e nas manifestações do bebê.

Se há nesta relação alguma intercorrência que clame por olhar externo, esta intervenção precisa considerar estas particularidades. O atendimento a bebês permite uma situação privilegiada de observação e interação com bebê e cuidador. Possibilita a intervenção baseada na percepção da experiência do bebê, que é atravessada pela identificação. O analista precisa se colocar à disposição, oferecendo postura análoga à da mãe e possibilitando a conscientização e elaboração de dinâmicas que surgem na relação. A análise se dá através da transferência, o que só faz sentido dentro de uma esfera transicional.


Palavras-chave: Transferência, transicionalidade, atendimentos de bebês, relação mãe-bebê.