A Clínica Interdisciplinar com pais/bebê ou A Clínica de Vários com Vários
Eloisa Tavares de Lacerda |
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Resumo Penso que o manejo transferencial que esta clínica com os muito pequenos nos exige é muito singular. Em muitos momentos para esta escrita, quase posso dizer que precisei fazer um outro exercício, talvez também singular (?!), o de não permitir que a teoria circulasse em mim de forma muito “dissociada” desta clínica e passasse à frente da minha compreensão. Aliás, eu poderia chamar até de uma incompreensão momentânea, frente ao material clínico que cada sessão ou que uma seqüência delas me proporciona. Percebo como é intensa toda a primariedade das cenas clínicas e, praticamente, a angústia se faz presente a cada encontro! Mas, a partir do momento em que começo a pensar no espaço de interlocução com meus pares logo após o término de cada sessão, algo se movimenta em mim e minha angústia diminui: num diálogo interno com a equipe interdisciplinar presente nas cenas clínicas com os muito pequenos, e numa troca robusta após cada um desses atendimentos, passo ao processo secundário e, com isto, sinto que algo se transforma. Fica mais possível, tanto suportar o movimento transferencial de toda uma multiplicidade de sujeitos nas cenas clínicas, quanto de poder receber todos com aquilo que cada um pode dar no momento do trabalho psicanalítico pais/bebê/criança muito pequena. Quero fazer uma apresentação deste termo, que penso podermos chamar de um novo conceito, que é o de Rede Tensional Libidinal Grupal e para tal citarei a psicanalista Paulina S. Rocha que foi quem o “apresentou” a mim e à minha equipe em conversas sobre a clínica com os pequenos e seus pais em grave sofrimento psíquico, e que nos caiu muito bem ter nomeado um dispositivo muito importante para nossas ações transdisciplinares a cada atendimento. Dessa forma, tudo o que está em cena naquele “conjunto de vários” – os da equipe e os da família – precisa se enlaçar para preparar a dinâmica vincular e não somente para organizar todas as “frentes de trabalho” que um bebê em dificuldades precisaria! É de um outro olhar e de um outro manejo transferencial que estou falando neste trabalho e é isto que fui transmitindo no trabalho da Formação Complementar Especializada no Serviço de Acolhimento Relação Mãe/Bebê da Derdic/Puc-Sp ao longo dos sete anos de sua existência. |