31 de agosto e 1 de setembro de 2012
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Trabalhos

O lugar da demanda na análise com crianças

Flávia Blay Levisky
Psicanalista, mestre em psicologia social (IP/USP), psicóloga (PUC/SP), membro do Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae e integrante do Grupo Acesso – Estudos, Intervenções e Pesquisa sobre adoção, da clínica psicológica do instituto Sedes Sapientiae.

Resumo

A partir do reconhecimento que a psicanálise faz do papel do objeto na constituição do psiquismo na criança, este dificilmente pode ser excluído do processo analítico. É principalmente a partir da  teorização proposta por Lacan que reflito sobre o lugar da demanda na análise com crianças.
Demanda e transferência surgem simultaneamente e é desse surgimento que resultará, ou não, a viabilidade de uma análise acontecer. É nesse encontro que um pedido poderá ser formulado e escutado.
A clínica psicanalítica com crianças pressupõe uma singularidade: a criança fala por seu sintoma, como uma forma de se fazer ouvir, assim não é apenas ela que se apresenta a nós. Trabalhamos com vários daqueles que se propuserem a falar sobre o sintoma e a criança, buscando desvendar sua mensagem, cabendo ao analista suportar a transferência não apenas com a criança mas também com seus pais e outros responsáveis por ela.

Propomo-nos a escutar os pais, ou responsáveis de uma criança, tentando saber o que querem e como compreendem os sintomas de seu filho. Essa escuta nos dá elementos que nos possibilitam inferir sobre sua posição na estrutura familiar.
Mas e quando esta configuração se apresenta com uma complexidade tamanha e que não se faz presente no trabalho? Como inferir sobre a posição da criança na estrutura familiar? Trabalhamos com aqueles que pedem em nome da criança e tentamos acessar aqueles que pela falta se fazem presentes. Mas que lugar a criança ocupa no desejo de cada uma dessas pessoas? De que lugar o analista os escuta? Como essas questões se expressam na transferência com o analista?

A partir do caso de Boris - um menino de 11 anos, que fora adotado aos 5 meses de idade e que aos 11 foi devolvido e temporariamente abrigado para depois voltar a viver com sua mãe biológica - reflito sobre as múltiplas transferências e demandas presentes nesse trabalho, assim como nos movimentos contratransferenciais em mim suscitados no encontro com esse paciente e com os diversos atores que fizeram parte desta cena clínica.


Palavras-chave: sintoma, demanda, transferência, contratransferência.