Criança hospitalizada: transferência(s)?
Helena Julio Rizzi Vanessa Keiko Rossaka |
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Resumo A psicanálise tem se desdobrando em novas práticas clínicas, em que tradição e inovação caminham paralelamente, trazendo outros questionamentos aos analistas que se propõe a realizá-las. Essas novas possibilidades de atuação encontram-se além das paredes que delimitam o consultório do analista e estendem-se a ambientes públicos, privados e diversas instituições, tal como os hospitais. Maria Lívia Moretto em muito contribui para a reflexão sobre a prática clínica em hospitais, resgatando conceitos fundamentais da teoria freudiana e articulando-os às práticas em instituições hospitalares. Estas apresentam especificidades no que tange a transferência, pois é necessário considerar a transferência à instituição e à figura do médico, além daquela endereçada ao analista; há que se ponderar também sobre a demanda de atendimento, já que em alguns casoso pedido é feito pela equipe multidisciplinar e é o próprio analista quem bate à porta ou vai ao leito, oferecer sua escuta. A respeito do atendimento de crianças em instituição hospitalar, faz-se necessário levar em conta as especificidades da análise com crianças: ainda que esta seja, sobretudo, a escuta de um sujeito (criança), é preciso estar atento à presença dos pais, no que se refere àrelação transferencial que estes estabelecem com o analista e, anteriormente, com a instituição hospitalar e com o médico. Esses questionamentos e reflexões permearam nossa prática clínica como aprimorandas, no ano de 2010, no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Neste trabalho, propomo-nos a refletir sobre os desdobramentos da transferência no atendimento clínico de crianças hospitalizadas nas enfermarias da referida instituição, considerando o setting nestes locais de internação e as particularidades do atendimento na infância. Para isso, nos pautaremos em conceitos de Freud e Lacan, principalmente sobre a transferência, articulando-os à nossa prática clínica através do relato de fragmentos de dois casos clínicos: Kelly tem um ano e meio e está internada na enfermaria hemato-oncológica em função de um câncer e Heloísa tem dois anos e está internada na enfermaria da cirurgia infantil para receber um transplante de fígado, ambas acompanhadas por suas mães.
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