O marcador implacável: a transferência em um caso de patologia neuromuscular degenerativa na infância.
Isabella Silva Borghesi |
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Resumo A partir de questões que se apresentam na clínica com crianças portadoras de doenças no aparelho locomotor, o presente texto discutirá alguns aspectos relacionados ao tratamento psicoterápico de um paciente com diagnóstico de Distrofia Muscular de Duchenne, uma doença neuromuscular degenerativa. Tendo como objetivo abordar elementos que se relacionam ao colapso físico e emocional vivenciado pelo paciente e por sua mãe, este trabalho procura discutir como uma criança e sua família confrontam-se com as dificuldades e limitações impostas pela doença e pela brevidade da vida, uma vez que o prognóstico dessa patologia é o óbito na adolescência .Está-se diante de um caso onde a morte se faz presente incessantemente em cada progresso da doença; durante todo o tratamento. Para tal discussão, serão utilizadas ideias expressas por Freud em seu ensaio “Nossa atitude perante a morte”, de 1915, como as de que procuramos reduzir a morte ao silêncio, e que o inconsciente desconhece o negativo. Estas ideias, clinicamente, relacionam-se ao caso na medida em que apresentam algumas das possibilidades geradas pela doença orgânica na economia libidinal: o doente recolhe seu investimento nos objetos externos e trabalha psiquicamente a ferida narcísica causada pela doença. A transferência nesta situação vê-se dificultada e o trabalho psicoterápico vacila. O reinvestimento libidinal do mundo externo passa por um posicionamento contratransferencial do analista, que deve trabalhar com a criança e com a família reconhecendo o prognóstico, mas favorecendo a possibilidade de construir uma clínica voltada à vida.
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