31 de agosto e 1 de setembro de 2012
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Trabalhos

Algumas especificidades do manejo da transferência na clínica psicanalítica com crianças que sofreram rupturas nos seus laços primordiais

Lia Lima Telles Rudge
Psicóloga formada pela USP, psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae, membro do Grupo Acesso da Clínica Psicológica do Instituto Sedes Sapientiae.

Cristina Almeida de Souza
Psicanalista, mestre em Psicologia Social pela PUC-SP, psicóloga. Membro do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae (I.S.S.) e do Grupo Acesso da Clínica Psicológica do I.S.S.

Cristina Seguim
Psicóloga formada pela PUC/SP, psicanalista pelo Curso de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, membro do Departamento de Psicanálise de Crianças do Instituto Sedes Sapientiae e integrante do Grupo Acesso da Clínica Psicológica do Instituto sedes Sapientiae.

Flávia Blay Levisky
Mestre em psicologia social pela USP, psicóloga formada pela PUC/SP, psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae e membro do Grupo Acesso da Clínica Psicológica do Instituto Sedes Sapientiae.

Sandra Ungaretti
Psicóloga formada pela PUC/SP, mestranda do Instituto de Psicologia da USP, psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae, integrante do Grupo Acesso da Clínica Psicológica do Instituto Sedes Sapientiae.

Resumo

O objetivo desta apresentação é pensar algumas especificidades do manejo da transferência na clínica psicanalítica com crianças que sofreram rupturas nos seus laços primordiais. Para tratar este tema, tomaremos como ponto de partida aquilo que Freud (1912) desenvolve em Dinâmica da transferência a respeito do papel que a transferência desempenha no tratamento psicanalítico e a releitura que Lacan (1964) faz deste conceito, considerando-o como um paradoxo: ao mesmo tempo em que a transferência é a arma mais forte de resistência, pois nela está em jogo uma compulsão à repetição que substitui o impulso de recordar, ela consiste na via de acesso privilegiada ao inconsciente. Nesse segundo sentido serão introduzidas algumas ideias de Gueller (2005): “as repetições na transferência seriam justamente um modo de presença particular. Elas são a memória do imemorial, daquilo que pertence a estratos mais profundos, do que não tem possibilidade de tradução em representações de palavra”.
Tal discussão será feita a partir da análise de fragmentos do atendimento psicoterapêutico de uma menina de 11 anos, cuja mãe adotiva buscou o Grupo Acesso da Clínica Psicológica do Instituto Sedes Sapientiae quando os impasses para o estabelecimento do laço entre ela e a filha começaram a se intensificar. Ao longo do tratamento foi importante tolerar a ação contínua da compulsão à repetição, cuidando para que a reatualização de cenas de abandono e desvalorização não levassem a um desinvestimento tal da análise que implicasse na sua ruptura. Por outro lado, foi apenas quando esta ameaça se tornou mais palpável, que as interpretações da analista, puderam ser escutadas.

Para compreender as especificidades da dinâmica estabelecida, que guardam uma semelhança com as questões com as quais nos defrontamos em diversos atendimentos realizados pelo Grupo Acesso, decidimos nos reportar a Luto e melancolia (1917). Entendemos, com Freud, que nesses casos é frequente uma fixação numa identificação narcisista com o objeto perdido e destruído, que dificulta o investimento em novos laços, na vida como um todo e no próprio corpo. Isto implica em desafios consideráveis no manejo da transferência, onde o desejo do analista é uma ferramenta privilegiada para a sustentação do processo analítico.


Palavras-chave: Transferência, manejo, ruptura, identificação.