31 de agosto e 1 de setembro de 2012
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Trabalhos

Crianças encopréticas - uma clínica transbordante

Marcia Porto Ferreira
Psicóloga, psicanalista, mestre pela PUC-SP, professora e supervisora do Curso de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae.  Coordenadora do Grupo Acesso - Estudos, intervenções e pesquisa sobre adoção da Clínica Psicológica do Instituto Sedes Sapientiae; autora de Transtornos da excreção – enurese e enconprese, Editora Casa do Psicólogo. 2004 e co-autora de Psicanálise com crianças. Perspectivas teórico-clínicas. Casa do Psicólogo, S.P, 2008.

Resumo

Nos raros estudos psicanalíticos encontrados sobre a encoprese infantil, há uma tendência do entendimento de que a encoprese aponta para um grave e preocupante distúrbio, indicador de correntes psicóticas do funcionamento psíquico em constituição. Diante da encoprese costuma-se pensar numa ausência de registro psíquico do ânus e das fezes onde o corpo funcionaria dissociadamente, numa desapropriação do corpo mesmo.

Não descartando que essa seja uma plausível compreensão para alguns casos, inclusive dentre alguns que atendi, na clínica psicanalítica com crianças tenho encontrado uma maior freqüência de quadros em que uma outra incidência se anuncia: a de um potencial predomínio da verleugnung freudiana (traduzido por recusa, renegação ou desmentido) na estruturação psíquica em andamento. São crianças que têm me demonstrado que a encoprese pode indicar um insuficiente processo de instalação ou dominância do recalcamento que ativa, não propriamente correntes psicóticas, mas perversas do psiquismo. Apesar de terem a analidade como modalidade privilegiada de satisfação pulsional, também não parecem sinalizar uma estruturação psíquica que caminhe na direção da obsessividade ou da neurose obsessiva.

Um caso clínico é relatado para ilustrar a forma como se apresenta e para se discutir algumas determinações possíveis para essa ocorrência. Interrogações sobre a estruturação da perversão na infância são consequentemente colocadas.


Palavras-chave: encoprese, perversão, perversão na infância, verleugnung ( recusa, renegação ou desmentido).